Cena do espetáculo O Gigante Egoísta

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 28.03.2014

Barra

Grupo carioca encanta com Oscar Wilde para crianças

O Gigante Egoísta, da Artesanal Cia, chega a SP com alta carga de talento, emoção e criatividade

Graças ao SESC de São Paulo, conheci há poucas semanas o grupo mineiro Trupe de Truões, de Uberlândia, com seu magnífico espetáculo Simbá, o Maruj’, sobre o qual já escrevi aqui. Agora, de novo graças aos programadores do Sesc, tive a maravilhosa surpresa de conhecer outro grupo vindo de fora de São Paulo, desta vez do Rio de Janeiro, a Artesanal Cia. de Teatro, que está em cartaz com O Gigante Egoísta em duas unidades diferentes, a da Consolação aos sábados de manhã e a de Santana aos domingos no início da tarde. Não perca, por favor. É deslumbrante. Saí de lá em estado de graça.

Baseada no conto de Oscar Wilde, a linda peça fala sobre a passagem do tempo, a amizade, a importância de brincar, o medo da solidão e de envelhecer. Para quem não conhece o conto, é sobre um gigante que não deixa as crianças brincarem no lindo quintal de seu castelo, até que, para castigá-lo por seu egoísmo, ventos e neves se instalam ali para sempre. Porém, chega um menino corajoso e rompe essa barreira, conquistando o coração empedernido do gigante e trazendo de volta ao quintal as outras estações do ano. Depois disso, o menino some e nunca mais volta, deixando o gigante com muita saudade.

A adaptação competentíssima é de Gustavo Bicalho, que também assina a direção ao lado de Henrique Gonçalves. Há uma história dentro da história, enriquecendo as camadas da narração do conto com o recurso da metalinguagem. Os personagens iniciais da peça estão totalmente relacionados com os personagens do conto que é narrado por eles próprios – com direito a uma revelação no final. É tudo muito lindo e tocante.

O Gigante Egoísta fez muito sucesso no Rio no ano passado, tanto que é o recordista de indicações (oito no total, incluindo melhor espetáculo e melhor ator para Márcio Nascimento, no papel do gigante) para o Prêmio Zilka Salaberry, a se realizar em grande festa carioca no dia 29 de abril. Merecidíssimo. Além de Márcio, estão no elenco os igualmente talentosos Marcos Guilhon e Tatá Oliveira.

Os figurinos (Fernanda Sabino e Henrique Gonçalves) são impecáveis, em branco e com tecidos visivelmente nobres. A iluminação ou desenho de luz (por Jorginho de Carvalho) é outro quesito de se tirar o chapéu, marcando lindamente os climas intimistas da narrativa e as mudanças das estações do ano (como o lindo amarelo das folhas no outono ou os efeitos simples e eficientes para sugerir a chegada da neve).

Há muitas cenas encantadoras, como a do chá entre o menino e o gigante. Ou a solução lúdica (um carrossel multiétnico) encontrada para representar as crianças brincando no jardim do castelo. Ou, ainda, a poética parte em que o menino relembra ao gigante como é que se brinca – e simula a travessia de uma ponte imaginária, ameaçada por piratas, dragões, tubarões e crocodilos. Quer ver justamente este trecho?

O Gigante Egoísta é um digníssimo representante do melhor e mais criativo teatro para crianças que se faz hoje no Brasil. Orgulho, orgulho, orgulho. Parabéns a todos da carioca Artesanal Cia. Corram pra ver, leitores amantes do bom teatro.

Serviço

SESC Consolação
Rua Dr. Vila Nova, 245
Tel. 11 3234-3000 / 11 3234-3000
Sábados às 11h

SESC Santana

Av. Luiz Dumont Villares, 579
Tel. 11 2971-8700 / 11 2971-8700
Domingos às 14h
Ingressos: R$ 8,00, R$ 4,00 e R$ 1,60 comerciário (nas duas unidades)

Temporada até 27 de abril