Crítica publicada no Site Pecinha é a Vovozinha
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 11.05.2018
Um gigante de tirar o fôlego comemora os 15 anos da Cia. O Grito
Peça infantil inspirada em Os Lusíadas, de Camões, desfia no palco uma infinidade de propostas e linguagens, sempre com muito talento
A primeira impressão é a de excesso de informação, de linguagens, de propostas. O Gigante Adamastor, comemorando os 15 anos da Cia. O Grito, é um desses espetáculos que chegam para mostrar serviço ao público. Tem de tudo em cena: atores, bonecos, atores virando bonecos, bonecos parecendo gente, narração épica, música, cantoria ao vivo, aventura, mistério, troca de papeis, poesia, brincadeiras de criança, sonhos, jogos cênicos, metalinguagem, coxia aberta (à vista do público), uma narrativa dentro de outra narrativa, a questão de gênero, ‘selinhos’ entre duas atrizes (sem que isso choque nem provoque reações contrárias no público), sumiço do irmão, poemas musicados, lírica, mitos, heróis, circo, números de picadeiro, um prólogo cantado para recepcionar o público na entrada… Ufa! Ainda devo ter esquecido de alguma coisa… Precisava de tudo isso na mesma peça?
Talvez não precisasse, claro, mas o fato é que a impressão de que há propostas demais na encenação não se sustenta por muito tempo, graças ao talento do grupo e do diretor Roberto Morettho para dominar tudo isso, sem deixar que nada fique over, que nada pese ou confunda ou atrapalhe o ritmo. Ao contrário, é uma encenação vertiginosa, que não nos dá fôlego, e, ao final, não saímos cansados, saímos querendo ainda mais.
Não é fácil fazer o que essa trupe fez: adaptar um canto dos Lusíadas, de Camões, para o teatro infantil. O imenso poema épico, talvez o mais famoso do mundo em todos os tempos, ganhou um recorte dramatúrgico muito esperto, a cargo da premiada escritora Heloísa Prieto. Ela criou três personagens crianças que, inclusive, além de tudo o que fazem no palco, também lidam em cena com o objeto livro, lendo trechos do clássico. Isso é importantíssimo em um tempo em que livro tem quase virado algo obsoleto para as novas gerações… Aliás, repare na concepção do livro, que coisa mais funcional e criativa (a cargo de Clau Carmo, cenógrafo e figurinista convidado).
O tal do gigante Adamastor foi criado no poema de Camões para retratar metaforicamente os perigos e desafios enfrentados pelas embarcações portuguesas quando passavam perto do Cabo das Tormentas (ou Cabo da Boa Esperança), no sul do continente africano. Foi excelente a ideia do grupo de lidar com esse tema, pois sempre é importante falar de medo com as crianças. A figura do gigante vilão sempre foi eficientíssima nos contos de fadas, como todos nós sabemos.
Que fique registrado sem sombra de dúvida: O Gigante Adamastor, da Cia. O Grito, com os atores Junia Magi, Samira Pissinatto e Wilson Saraiva, aliando circo, animação, poesia, teatro e muito mais em apenas 50 minutos, é uma das grandes atrações da atual temporada paulistana. Os caras são bons – vida longa!
Serviço
Temporada: De 22 de abril a 3 de junho de 2018
Local: Teatro do SESC Ipiranga
Endereço: Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga, São Paulo
Telefone: 11 3340-2000
Capacidade: 200 lugares
Quando: Domingos, às 11 horas
Classificação: Livre (indicada para crianças a partir dos 6 anos)
Duração: 50 minutos
Ingressos: Gratuito para crianças menores de 12 anos. R$ 17,00 (inteira), R$ 8,50 (meia) e R$ 5,00 (credencial do Sesc)
Nova Temporada: De 17 de junho a 1º de julho de 2018
Local: Sede da Cia. O Grito
Endereço: Rua Monsenhor Andrade, 746 – Brás, São Paulo
Capacidade: 80 lugares
Quando: Domingos, às 13 horas
Ingressos: Dois quilos de alimento não perecível ou um agasalho (para a Casa Restaura-me, ONG que presta serviços de acolhimento à população em situação de rua)