Crítica publicada no Jornal da Tarde
Por Clóvis Garcia – São Paulo – 19.12.1987

 

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A magia musical de João das Neves

Um espetáculo que se dirige à faixa de crianças até 7/8 anos não é muito comum. Em geral, procura-se atingir todas as faixas etárias, o que, quase sempre, resulta em não atender completamente a nenhuma. O Gato Pardo de Patrícia e Leonardo, de João das Neves, com direção de Vilma Desouza, produção de Expressão e Bottega dell’Arte, que termina sua carreira no Teatro Sérgio Cardoso neste final de ano, é uma montagem que procura atender ao público de menor idade.

João das Neves é um autor consagrado, com textos premiados tanto para adultos como crianças. Para a plateia infantil já teve encenadas as peças, entre outras, A Lenda do Vale da Lua e O Leiteiro e a Menina Noite, que resultaram em ótimos espetáculos. Se o texto atual foi o resultado da transposição teatral de uma história contada por crianças pequenas, sobre um gato pardo que desapareceu na chuva. Com esse material, João das Neves escreveu um roteiro para um musical, com a temática do relacionamento familiar, pais e filhos, irmãos, numa linguagem acessível. Falta, porém, uma continuidade na história, pois as crianças pequenas, nos seus jogos, mudam constantemente de objeto de interesse, mas quando ouvem histórias contadas por adultos exigem um fio condutor, com começo, meio e fim, além de uma fidelidade à narrativa inicial (experiência com seis filhos e agora com três netos, exatamente nessa faixa etária). A fixação, porém, de Leonardo na procura de seu gato, exaustivamente repetida, é bem característica dessa idade.

Com o roteiro de João das Neves, Wilma Desouza, outra premiada diretora do teatro infantil, concebeu um espetáculo musical, como um grande jogo infantil, recorrendo à qualidade da musicista (e diretora, autora, atriz) Gilda Vendebrande, que compôs nada menos do que dez músicas para a montagem. Jogando com atores que cantam ao vivo, a diretora criou um ritmo animado, de jogo infantil, em que os atores parecem estar brincando o tempo todo, cantando e dançando, numa sugestão criativa para o público infantil. A troca de personagens, característica de João das Neves (supomos que seja indicação do texto original, que não conhecemos), poderia, porém não ficar limitada aos papéis femininos.

A cenografia de Renato Dobal, teatralista, jogando com telões e cores, seus adereços e figurinos, a coreografia de Tony Callado e, especialmente a música de Gilda Vandebrande, com arranjos de Darcy Ract e execução de Karan, Miranda, Darcio e Toninho, se integram na garra do elenco, formado por Fernando Neves, Ivan Oliveira, Stela Leite e Gilda Vandebrande, para resultar num espetáculo animado.

Obs.
O espetáculo estreou em 10.10.1987.