Monica Biel e Ana Barroso: boa sintonia no palco do Planetário

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 11.09.2005

 

 

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O Gato de Botas ou A Turnê de Lasanha e Ravióli: Montagem bem cuidada

Criatividade que encanta o público

A dupla de palhaços Lasanha e Ravióli, formada pelas atrizes Ana Barroso e Monica Biel, está em cartaz no Teatro Maria Clara Machado/Planetário com o espetáculo O Gato de Botas ou A turnê de Lasanha e Ravióli, inspirado no conto de Charles Perrault. Na adaptação da história, a autora do texto, Monica Biel, cria duas peças que correm paralelas: uma revela às crianças a história do esperto Gato e a outra, os bastidores das apresentações dos dois palhaços em sua viagem pelo interior do país.

No conto de Perrault, um moleiro deixa como herança para seu filho mais velho um moinho; para o do meio, um burro; e para o mais jovem, um gato, o que deixa o rapaz muito frustrado. Mas, para surpresa dos leitores, o bichano se revela um poço de esperteza, armando uma série de situações que acabam culminando no casamento do seu dono com a filha de um rei. E, sem dúvida, as estratégias do gato para conseguir o que deseja são o maior atrativo do original.

Mistura de histórias atrapalha dramaturgia

Quando a autora opta por enxugar essa divertida trama e enxertar no texto as cenas que retratam o cotidiano dos palhaços sua turnê, ela esvazia a história original. Não que seja desinteressante para o público infantil conhecer as expectativas, os medos e os anseios dos dois palhaços, como é mostrado em uma das histórias da peça. Mas, por outro lado, é uma pena que as crianças saiam do teatro sem conhecer de fato o encantador personagem do Gato de Botas.

Dentro da proposta da autora, o espetáculo é bem realizado. Ana Barroso e Monica Biel
têm uma boa sintonia no palco, além de conseguirem desempenhar com competência as diferentes funções que desempenham na montagem – a direção, o cenário, o figurino e os adereços. Em O Gato de Botas chama especial atenção a criatividade das duas atrizes como cenógrafas: atrás de duas portas que os palhaços abrem e fecham durante o espetáculo, surge um mundo mágico povoado pelos diferentes personagens que integram as duas histórias. A dupla também se sai bem na criação do variado figurino e dos adereços utilizados no espetáculo. E como diretoras, as duas conseguem criar momentos divertidos para as crianças, como o do carrinho de controle remoto que representa o deslocamento dos palhaços em sua turnê.

Aurélio de Simoni faz um trabalho eficiente no desenho da iluminação, assim como Carlos Cardoso na direção musical. Eduardo Andrade acerta na criação dos divertidos bonecos manipulados pelas atrizes, e Luciana Maia mostra habilidade na pintura das máscaras utilizadas por elas.

No todo, O Gato de Botas ou A turnê de Lasanha e Ravióli é um espetáculo muito bem cuidado por toda a equipe, e, apesar de apresentar alguns problemas na sua dramaturgia, agrada às crianças pela criatividade de suas encenadoras.