O Gato de Botas, em cartaz no Teatro Markanti

Crítica publicada no jornal O Estado de São Paulo – Teatro Infantil
Por Rui Fontana Lopez – São Paulo – Setembro 1981

 

Atores heterogêneos em espetáculo com restrições

Em cartaz no Teatro Markantti o espetáculo infantil O Gato de Botas, adaptado do conto original de Perrault por Telassim Rodrigues e dirigido por Marlene Santos. A despeito de conseguir despertar o interesse e o riso do público infantil, sobretudo das crianças mais novas, merece restrições.

A adaptação eliminou o sentido mágico e fantástico do conto, limitando-se a narrar as aventuras por que passam um gato sabido, um rato guloso e um humilde trabalhador, na verdade o Marquês de Carabá, na tentativa de entrar para a corte do rei. Muito tempo atrás, o avô do Marquês de Carabá, fora ludibriado por malfeitores que lhe roubaram títulos e tesouros, ficando a nobre família obrigada a viver existência de gente comum. O gato e o rato devolverão, após muitas aventuras algum suspense, o título e a riqueza ao Marquês, desmascarando um dos principais assessores do rei, e fazendo o jovem encontrar o amor junto à princesa do reino.

A peça se sustenta unicamente através de cenas tradicionais de suspense – encontros inesperados, personagens misteriosos, com vida dupla e alguma confusão em cena – que conseguem provocar o riso fácil e despertar o interesse das crianças pequenas. O Gato de Botas do Teatro Markantti só é bem-sucedido nesse aspecto. Como espetáculo teatral, a montagem deixa a desejar. Cenário e Figurinos são praticamente inexistentes: não há neles qualquer vestígio de criatividade ou invenção. Mesmo que os recursos da produção tenham sido limitados ou escassos, o que é quase uma regra em teatro infantil, não se justifica tamanho descaso com o “visual” de um espetáculo para crianças

Um grupo de atores excessivamente heterogêneo tenta com algum êxito dar dinamismo à montagem. O problema maior de seu desempenho é que a direção, preocupada em sublinhar a graça das peripécias e o suspense da história, escorrega em excessos e numa caracterização estereotipada das personagens. Assim tudo é demais: o ministro é por demais afetado e maldoso; o rei e a princesa são excessivamente tolos; o gato é sabido demais; o rato é demasiadamente infantil e o Marquês de Carabá, uma verdadeira nulidade. Essa escolha da direção, embora desperte simpatias e antipatias imediatas do público, tira-lhe, por outro lado, qualquer possibilidade de reflexão ou participação criativa.

Com essas restrições O Gato de Botas acaba-se comprometendo como espetáculo teatral para crianças: despertar o riso fácil através de situações embaraçosas ou da afeição de personagens malvadas é pouco. O teatro infantil paulista já se acostumou a um padrão diferente de montagens, a peças que mostram no palco os resultados de um processo genuinamente criador