Crítica publicada no Jornal dos Sports
Por Jota Efe – Rio de Janeiro – 18.08.1951

Uma das mais conhecidas historietas infantis, qual seja a de O Gato de Botas, que encantou a nossa meninice com a sagacidade de um felino, sua principal personagem vem de ser teatralizada por Geisa Boscoli. E, todos os sábados em vesperais e, aos domingos  em matinais, o Teatrinho Jardel é tomado de assalto por um numeroso punhado de crianças ávidas de ver as aventuras do esperto bichano que transforma o seu amo, pobre, sem nada, em Marquês de Carrabás.
Lá estivemos, sábado último, atendendo ao convite que nos foi feito. Formamos em meio à gurizada, para assistir, também, ao divertido espectáculo que ora se proporciona à petizada de Copacabana. Constatamos, assim, o vitorioso êxito dessa iniciativa que se deve não só ao empresário do referido teatrinho mas, por igual, ao Conjunto “Os Fabulosos” que vive no palco a simples e encantadora aventura do esperto gato metido numas lindas botas vermelhas.

Ao trazer para o teatro um conto infantil Geisa Boscoli, autor já experimentado, soube, com bastante habilidade, conservar na sua feitura a característica simplória, intuitiva, do enredo realizando a sua moral objetiva que é a da bondade e da vivacidade. Uma peça destinada à crianças tem afora, a sua primordial condição de ser educativa, exemplificadora de bons costumes, que atrair, também, o auditório, através um processo facil e assimilável. Deve, ainda, ter um transcurso vivo, álacre, que interesse e divirta. A teatralização de O Gato de Botas foi feita assim, nestes cânones, e a sua representação coore em ritmo vivo, entre francas gargalhadas imiscuindo-se, sempre que possível, a plateia nas ocorrências do palco. A gurizada, inquirida aqui e ali pelo gato, dá o seu “palpite”, mostra estar a par da ação e se torna fã do bichano, “torcendo” para que todas as suas iniciativas tenham um sucesso feliz.

A interpretação que, dissemos acima, tem, num teatro infantil de ser espontânea, alegre, pede atores expeditos,capazes de figurar com naturalidade e força convincente as personagens apresentadas. “Os Fabulosos” estão bem capacitados de tais requisitos e a representação tem, portanto, o seu resultado desejado. Edgard Vasconcelos, além da esplêndida figura do gato que apresenta, soube atrair a simpatia da gurizada comum desempenho muito próprio no assunto.O Rei e a Rainha, feitos por Helvecio Alvarez e Claudia Hebe, retrataram fielmente as concepções infantis nos seus trajes e modos. A Fantasia, um êmulo de Fada que conduz a teatralização teve de Vera Rosa o feitio suave,terno, que se fazia necessário. Os demais, que o pouco espaço desta seção nos impede de detalhar, todos muitos certos nos tipos que encarnam, dão ao espetáculo a homogeneidade que o mesmo requer para agradar. E, para concluir, devemos, ainda, ressaltar os cenários que são, todos, muito bonitos e vistosos..