Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Rita Kauffman – Rio de Janeiro – 15.06.1951
Um Gato de Botas correto, mas antigo
Era uma vez um lavrador que recebeu do pai um gato como única herança. Prometendo ao amo fazê-lo um nobre, o gato exigiu um par de botas, uma capa e um chapéu para realizar seus intentos, no que foi prontamente atendido. O gato conseguiu apresentar seu patrão ao Rei e à Princesa, convencendo-os de que ele era um nobre, por uma série de artimanhas. Mas o honesto lavrador resolve contar a verdade à amada e ao seu pai, que o perdoou e lhe concedeu a mão da filha em casamento. E foram felizes por muitos anos.
Esta é a história de O Gato de Botas, que o Grupo campinense Siá Santa sob a direção de Ayrton Salvanani apresenta de segunda a domingo no Teatro Nelson Rodrigues do BNH. A adaptação do texto de Charles Perrault por Crispin Gomes Junior mantém firmemente a vitória do Bem sobre o Mal e da Virtude sobre a Desonestidade. Tudo é apresentado de forma bastante simples, sem maiores requintes ou sutilezas, inclusive de produção, talvez porque o grupo destina a montagem a crianças bem pequenas (quatro a 10 anos) e, ao contrário de A Bela Borboleta, de Ziraldo, seu programa do ano que passou.
Não se sente em O Gato de Botas uma direção marcante e o elenco se desincumbe razoavelmente de sua tarefa de contar de forma antiga uma história também antiga. Sem dúvida, a presença mais expressiva e à vontade no palco é Euclides Rayalla, que protagoniza o camponês. Os cenários são, como tudo o mais, corretos, bem como os figurinos. O mérito da peça vai para a trilha sonora de Maestro Hareton salvanini, lamentando-se apenas que as músicas sejam interpretadas pelos atores em cima da gravação, tornando artificial e distante o que há de melhor na peça: a música.