Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno – Rio Show
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 11.08.1996

Barra

O Equilibrista: Direção de Márcia Duvalle aproveita o melhor do texto e do elenco

Brincadeiras ressaltam a importância do lado lúdico da vida

O teatro, assim como o futebol e a própria vida, pode ser uma caixinha de surpresas. Ou um baú delas. E foi assim que a diretora Márcia Duvalle tratou de encerar O Equilibrista, peça baseada no livro homônimo de Fernanda Lopes de Almeida, em cartaz no minúsculo teatro do Museu da República. Tudo acontece a partir de um grande baú, elemento dominante em cena do qual os quatro ótimos atores (Cláudio Mendes, Marina Vianna, Christine Braga e Evandro Melo) vão retirando  inspiração em forma de brinquedos e encenado vários jogos infantis.

Entremeado nesta sucessão de brincadeiras, eles contam a história de um equilibrista que viva chateado porque morava em cima de um fio e sentia falta de um chão. No final, ele descobre que seu problema nem é assim tão feio perto do mau-humor e ranzinzice de muitas pessoas e que ser um tantinho desequilibrado muitas vezes é bacana.

Todo o espetáculo parece reforçar a importância de linguagem lúdica tanto no teatro como na vida, seja através do texto como da própria concepção de Márcia. A diretora, que há dois anos montou dos jardins do próprio Museu da República Calendas da Primavera, uma peça de ambições e  proporções grandiosas, fez de O Equilibrista um espetáculo quase de bolso, enxutinho e bem apoiado no desempenho do quarteto em cena.

Márcia soube retirar o melhor dos atores – que pulam e saltam em cena como crianças, evidenciando a preparação corporal assinada por Márcia Rubin – e teve ajuda preciosa em áreas importantes para a peça. Na iluminação, Djalma Amaral criou ótimos adereces de luz, como móbiles e a barra que desce do teto repleta de brinquedinhos de plásticos. Na área musical, Marco Aurê fez um trabalho consistente que cativa a plateia. E os criativos figurinos e adereços de Luciana Maia são importantíssimos para conferir a devida veracidade às brincadeiras teatrais.

Bem equilibradinho, O Equilibrista dá o seu recado.