O Duende e a Moça Rainha, peça de Fátima Café, adaptação de “Rumpelstiltskin”, mescla a linguagem dos antigos trovadores com a dos contadores de histórias de hoje

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 08.06.2003

 

Barra

O Duende e a Moça Rainha: A diretora Fátima Café cria espetáculo muito simpático e divertido

Feliz adaptação dos Irmãos Grimm 

A peça O Duende e a Moça Rainha, em temporada no Teatro Candido Mendes, é uma livre adaptação de Fátima Café para o clássico “Rumpelstiltskin”, dos Irmão Grimm. Para contar a saga de uma jovem que se vê obrigada a transformar palha em ouro, a autora e também diretora, mescla a linguagem dos antigos trovadores – poetas ambulantes da Idade Média que cantavam seus poemas – com a dos contadores de histórias de nossos dias.

O ponto de partida de O Duende e a Moça Rainha é uma mentira dita por um pobre camponês. Ameaçado de morte e sem recursos para pagar os abusivos impostos cobrados pelo rei, ele inventa que sua filha é capaz de, ao fiar, transformar palha em ouro. Como a moça não tem esse poder, ela acaba sendo chantageada por um inescrupuloso duende, que consegue dar conta do serviço.

Três atores em cena que tocam e cantam

No desenrolar da trama, os personagens da peça – uma moça ingênua, um duende malvado e um rei ambicioso ­vão deixando cada vez mais evidentes seus defeitos. O rei torna-se cada vez mais ganancioso, o duende, mais perverso e a moça, até então boazinha, vira um poço de ambição ao vislumbrar a possibilidade, de ser rainha… O único que não se modifica é o bobo. Indiferente ao poder do dinheiro, ele vê com muita clareza, e um tanto de compaixão, as fraquezas de toda aquela gente.

E Fátima Café foi muito feliz em sua livre adaptação do clássico dos irmão Grimm,
aproveitando as viradas da história para envolver e prender a atenção das crianças.

O elenco da peça é formado por três atores, que também tocam e cantam as músicas que costuram o espetáculo. Entre eles, destaca-se Ricardo Romão, que vive o duende, o pai da moça e o rei – este último, um enorme boneco que ocupa todo o fundo do palco. Além de tocar violão e afoxé, o ator tem um ótimo trabalho corporal. Hebe Cabral, que interpreta o bobo, consegue driblar suas limitações vocais e corporais, estabelecendo empatia com as crianças. Já Ana Carvalho, como a moça rainha, não se sai tão bem quanto seus companheiros.

A bela luz de Renato Machado preenche o cenário

Se Fátima Café acertou na adaptação da história, já não se pode dizer o mesmo do cenário e do figurino, também criados por ela. Apesar de os dois serem corretos, talvez pudessem ser mais criativos. Em alguns casos, é melhor delegar tarefas.

Na ficha técnica, vale destacar a bela luz de Renato Machado, que preenche com tons dourados o despojado cenário. E a música de Carlos Café, que pontua com precisão a peça.

Dentro da sua proposta, de contar com graça uma história, a diretora Fátima café é bem-sucedida. O número de plateia em que os pequenos dão sugestões sobre o nome do duende é bem divertido, dando às atrizes a chance de interagir com o público.

O Duende e a Moça Rainha é um espetáculo muito simpático, que, sem dúvida, cativa as crianças pequenas.