Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 21.11.1998
A força de uma peça que parece a vida como ela é
O sexto trabalho da dupla Blat e Piccolo usa e abusa da receita de sucesso que firmou o nome da Oficina de Criação de Espetáculo: muito humor, cenas que se sucedem num ritmo alucinante e, principalmente, uma alta dose de crítica social. E depois de experimentar uma pitada de ficção científica em peças anteriores, já houve alienígenas e máquinas de viajar no tempo para mudar os rumos da História, a dupla voltou a fincar os pés na dura realidade em O Dinheiro é o Terror. Como o próprio nome indica, o vilão é mesmo a vil moeda e os problemas que ela causa, seja porque falta, seja porque sobra.
A ideia de fazer um metateatro é engraçada, envolve o público, e, o texto inteligente de Rogério Blat domina o espetáculo. Um bocadinho demais, inclusive, já que um mesmo recurso é, às vezes, usado à exaustão e esticar demais uma piada nem sempre dá certo. Apesar de pedir um bisturi aqui e ali, numa ação conjunta de texto e direção, a peça mantém o ritmo, conduzida pela destreza costumeira de Ernesto Piccolo.
No palco, os 44 atores da Oficina, alguns velhos conhecidos do público, como a ótima Suzana Barreto no papel da empregada Vitória, continuam a extrair da sua condição (real) de gente-como-a-gente a grande força do espetáculo: não parece teatro, parece a vida como ela é.