Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 12.04.1980

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Um diamante valioso

É com satisfação que vemos um grupo de pessoas já reconhecidamente criativas voltarem a se reunir e realizar um espetáculo agradabilíssimo como esse O Diamante do Grão-Mogol, de Maria Clara Machado, em cartaz no Teatro Vanucci. Essa observação é causada principalmente pela frustração que foi ver a reunião de tais pessoas – Wolf Maya, Ubirajara Cabral, Kalma Murtinho – numa encenação tão aquém de suas possibilidades como foi o caso de Maria Gente Fina. O grupo permaneceu junto tendo ainda as presenças de Cininha de Paula e Lupe Gigliotti, e partiu para dar a volta por cima. Na verdade, O Diamante de Grão-Mogol alcança claramente os objetivos a que o grupo se propôs: fazer um espetáculo para crianças que fosse bonito, criativo, divertido, interessante, bem realizado. O texto de Maria Clara Machado estabelece de imediato, uma relação boa com a plateia infantil: propões uma aventura, fala de mocinhos e bandidos, mostra lutas de espada e tem, em sua trama, o roubo da mocinha e a tentativa de roubo de dois diamantes. Com esses elementos na mão, o diretor Wolf Maya criou uma montagem que funciona do início ao fim, auxiliado principalmente pela grande força de sua parte musical. No programa consta música original de Reginaldo de Carvalho, com adaptação e músicas adicionais de José Mauro Soares, Cláudia Costa, Reynaldo Lacerda e Wolf Maya. Dessa forma não se sabe qual é a verdadeira participação do que é original e do que é novo. De qualquer forma, deve ser destacado o trabalho de Ubirajara Cabral, como diretor musical; todos os momentos musicais estão muito bem integrados ao desenvolvimento do espetáculo; as músicas conseguem ser bem cantadas (fato raro no teatro nacional-não apenas no teatro infantil); há a utilização – com bom resultado final – de várias vozes, enriquecendo o canto. A música ao vivo e a coreografia de Wolf Maya conseguem completar o quadro, permitindo ao público um bom envolvimento. A ação se passa no século XVIII e há uma utilização de gêneros musicais que dão o clima do tempo: modinhas, frevo etc. O espetáculo tem momentos visuais muito fortes, como a cena dos barcos no rio ou como a cavalgada. Os atores estão bem, funcionando com garra e alegria. Entretanto, há certos desempenhos que merecem destaque. A interpretação que mais agrada é a de Maneco Bueno, como Augusto Bombom. Divertida, solto, comunicativo, o trabalho de Maneco Bueno parece ser o que mais agrada a criançada. Outros bons desempenhos: Charles Myara, como Fenelon Tramóia (desempenho inteligente, melhor no início que no final, onde começa a apelar muito para caretas clichês), Lupe Gigliotti (Dona Anésia Pimentel) e Cininha de Paula (Malu Quequeca). O Diamante do Grão-Mogol é um espetáculo que diverte, que tem boa realização e muita força visual e musical.