Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 20.08.2005
Sabedoria de Andersen
Inspirado em conto do autor, O Colarinho condena vaidade e arrogância
Em cartaz no Sesc Tijuca, dentro da V Mostra SESC CBTIJ de Teatro para crianças, O Colarinho é uma pequena história que ilustra uma lição de sabedoria escrita pelo dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875). Autor do conhecido O Patinho Feio, Andersen foi a voz do Romantismo a passar valores ideológicos e sugerir padrões de comportamento para as crianças em seus contos, que abordam virtudes e valores éticos e condenam a arrogância e o orgulho.
O personagem principal desta peça é um vaidoso Colarinho que sai em busca de uma noiva, mas é rejeitado por todas a quem corteja. Depois de ser desafiado e queimado por um ferro de passar, ganhar uma tesourada e ficar esfarrapado é desprezado pelo dono. Vai parar em um depósito de trapos onde conta mentiras, gabando-se de sua vida amorosa.
O fanfarrão encontra, ali, um pano de chão, um lenço, um pano de prato e deles desdenha. Mas acaba igual a todos, triturado e transformado em uma folha de papel. Poeticamente, diz Andersen, ele se transformou em um papel em branco e nele se escreveu esta história.
A adaptação do texto, feita por Luiz Carlos Buruca é bastante fiel ao texto original. Objetos e formas animadas contam a história em forma de musical. O ecletismo é o denominador comum na seleção das músicas da trilha sonora, também assinada por Buruca, e que vão da canção popular brasileira ao jazz.
Os bonecos, de autoria de Carlos Alberto Nunes, são muito simples: lenços, tesouras, calçadeiras. Estes personagens não têm uma confecção pormenorizada, nem muito elaborada, mas funcionam pela criatividade e a manipulação descontraída feita pelos atores-manipuladores Luiz Carlos Buruca e Alessandro Hanel.
Toda esta estética apoiada na simplicidade da confecção dos personagens e sua forma de manipulação incluem uma luz delicada, música suave e uma forma de dizer o texto que empresta ao espetáculo um toque de leveza, transformando-o numa prazerosa brincadeira. Esta é a proposta da direção, também de Luiz Carlos Buruca: um tom intimista, delicado, mas com um humor crítico, movimentação dinâmica e coreografias criativas.
É uma peça voltada para crianças menores, mas que também agrada às maiores e aos adultos, pela força encantatória própria do teatro de animação. É importante que esta forma de teatro esteja presente na Mostra SESC CBTIJ, pois resgata esta linguagem milenar, democratizando sua utilização, normalmente feita apenas por bonequeiros em festivais ou locais especialmente destinados a este tipo de espetáculo.
Não é frequente a apresentação de peças teatrais de formas animadas nos palcos dos teatros do circuito comercia. O Colarinho leva esta forma de expressão a Andersen, um autor clássico, retomando a técnica de manipulação mais tradicional, dentro da empanada (local onde os atores-manipuladores ficam escondidos do público), onde um desenho de arte nos remete à época do autor.