Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 29.02.1976
Um coelho com deficiências de texto e cenários
Dilu Melo me declarou certa vez ser uma artista com atuação no palco há 32 anos, sempre aberta às críticas e com a preocupação constante de aperfeiçoar seu trabalho. Depois de revisar mentalmente seus últimos espetáculos e de assistir, recentemente, O Coelhinho Pitomba, de Milton Luís, a conclusão é que Dilu tem de solucionar duas deficiências principais; texto e cenografia (quem faz seus cenários? Ela Mesma?).
Para o aperfeiçoamento de suas montagens, é imprescindível que Dilu Melo contrate um cenógrafo e deixe de lado as improvisações; e selecione com muito mais rigor os textos para que não sejam estímulos a correrias, esbarrões e esconde-esconde (em relação aos atores) e estímulos para que a plateia brinque de trenzinho, ou pule carniça ou ajude a chamar determinados personagens (sempre desatentos ou extremamente surdos). Que Dilu procure uma peça em que haja desenvolvimento de ação dramática (o que não significa, necessariamente, a existência de uma história com princípio, meio e fim) e em que haja coerência nessa ação. Em O Coelhinho Pitomba há um transbordar de incoerências, a cada instante. Se para a Onça ficar amiga do Coelho bastava mostrar para ela a existência de outros guisados deliciosos (e não apenas de coelho), por que isso não foi feito logo no início da peça, quando surgiu o problema? E por que ela aceita facilmente e sem experimentar, na prática, a informação de que há guisados mais gostosos? E, se basta um inimigo dizer para o outro “Vamos ser amiguinhos?” e toda a guerra termina, por que então a necessidade de “se esconder atrás de árvores?” E se Pitomba, disfarçado de Árvore, faz tanto esforço para conseguir um balde de água, porque – depois de consegui-lo não volta para buscar mais água quando o balde cai no chão?
Isso tudo sem falar, é claro, nos lances teatralmente ingênuos como o da cena da cenoura ou de todas as fugas do Coelho.
Quanto à encenação, o começo apresenta um bom ritmo e alguma dinâmica, mas na medida em que o texto se repete o espetáculo começa a perder seu vigor e o interesse vai caindo gradativamente. A participação de André Prevot (Urso) e Marco Ubiratan (Papagaio) torna-se importante porque são dois atores firmes, seguros, tranquilos e que – sabendo dizer um texto e tendo noção de ritmo e um bom uso do corpo – dão conta do recado. Os personagens de Prevot de Ubiratan – muito vazios não permitem a criação de grandes interpretações, mas, de qualquer forma, quando estão em cena, são esses atores que mantém o interesse do espetáculo. Já Iracema Borges (Onça) – corpo e voz muito inexpressivos, sem verdade -, e Roberto Argolo (Pitomba) – um trabalho cheio de vícios, ainda na base do tatibitate -, concorrem para a ausência de vida que se instala depois dos vinte minutos iniciais. A ressaltar, positivamente, os bons figurinos (de quem são?) e a preocupação de utilizar música ao vivo, deixando de lado os deprimentes playbacks.