Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 19.08.1995
Apuros de um palhaço
Henrique Tavares, autor e diretor de O Circo Pega Fogo, é o mesmo que esteve em cena na temporada passada, com o espetáculo De Como Quase Tudo deu Errado. Contando a história da concepção e nascimento do menino Jesus, sob a ótica do humor irreverente – até o anjo Gabriel era suspeito do evento -, o autor levava ao palco um enredo criado há dois mil anos, numa linguagem muito atual. O toque de genialidade na direção ficava por conta de Luís Mendonça, em seu último trabalho dedicado ao público infantil.
Em O Circo Pega Fogo, o autor escolhe o mesmo caminho bem – humorado, para falar de uma outra crise familiar. Num circo. Júnior, o filho do palhaço Caruso, por nada deste mundo quer seguir a carreira do pai. Mas tendo nascido com nariz vermelho e pés enormes, e já exibindo aos 16 anos uma respeitável careca, não lhe sobra muita alternativa.
O texto de Henrique, pontuado de situações inusitadas – entre elas,
um pesadelo do palhaço, que escolhe a profissão de médico e acaba cortando as pernas de um paciente que foi operar a garganta; ou o sumiço do coelho do mágico, que aparece em uma travessa, na mesa da família Caruso – são achados de comédia. O namoro de Júnior com a filha da mulher barbada – uma menina de bigodes -, a trilha de gargalhadas que sublinha as piadas do cotidiano e a porta que anuncia com toda a pompa qualquer convidado que por lá apareça, também são recursos inovadores, de muito efeito.
Mas se Henrique Tavares acertou nas ideias do texto, sua direção torna a encenação longa demais. Algumas situações de conflito se perdem em diálogos infindáveis sobre o mesmo assunto. Com o mistério resolvido no meio da cena, o que vem depois pouco acrescenta a história e só compromete o ritmo do espetáculo.
No elenco, além do próprio Henrique Tavares – muito à vontade no papel do palhaço Júnior- destacam-se Isaac Barbavid (no personagem Caruso), Ana Paula Abreu (criando um tipo histriônico para a mãe do palhaço) e Carla Faour (na decidida menina de bigodes).
A luz de Aurélio de Simoni cria todos os climas e intenções da montagem. E, no final, uma oportuna homenagem ao diretor Luís Mendonça – um palhaço que por certo está fazendo falta.
Cotação 2 estrelas (Bom)