Marco (à esquerda), Bianca e Ronaldo: resgatando a fórmula da história bem contada aliada a cuidadosa produção


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 19.10.1996

 

Barra

Uma aposta no bom gosto 

A Cia. de Teatro Artesanal, responsável pela montagem de O Circo Mágico de Provolone, Goiabada e Guaraná, é a mesma que no ano passado apresentou, também no Museu da República, Romão e Julinha, espetáculo simples e delicado que acabou sendo indicado para o Prêmio Coca-Cola de Teatro Jovem como um dos melhores cenários dos ano. A fórmula eficaz da história bem contada, aliada à cuidadosa produção, volta ao palco muito oportunamente, sem nenhum ranço de receita do sucesso.

O Circo Mágico de Provolone, Goiabada e Guaraná, com texto de Carlos Henrique Casanova e direção de Gustavo Bicalho, começa no pátio de entrada do museu, com cenas de humor explícito tendo como ponto central a paixão do mestre de cerimônias pela mulher barbada. Esta prévia é gratuita e o publico, completamente conquistado, corre a bilheteria para seguir a trama, agora dentro do teatro. No palco, porém, tudo se transforma. Uma outra história de amor se apresenta. Desta vez a do palhaço Provolone, que ama a bailarina Lili, que também é amada por Ping-Pong, o gorila. Mas Lili só ama o domador. Num truque bem feito, tudo se resolve no final feliz.

Mas o que é feito do romance da mulher barbada com o mestre de cerimônias? O bem humorado casal – Kátia Kamelo e Nilton Marques -. Agora em pequenas aparições coadjuvantes podia estar mais presente em cena. As figuras são, por si só, muito interessantes e com certeza dariam maior suporte ao enredo nas tramas paralelas e enriqueceriam o foco na ambientação dos bastidores do circo. Mesmo assim, a peça se resolve bem no palco. Ronaldo Reis é o palhaço Provolone em impecável composição. Sandra Hansen, a bailarina Lili; Henrique Gonçalves, o menino Paulinho; Evandro Rios, o Ping-Pong; e Pablo Siqueira, o atirador de facas.

A Cia. de Teatro Artesanal, mantendo a qualidade de sua produção, retrata no minúsculo palco não um picadeiro, mas os camarins do circo. Os cenários de Hélcio Pugliese, em recortes de muito bom gosto, mostram o outro lado da cena em telas de lona superpostas, dando ao público a nítida impressão que do outro lado acontece a função. A iluminação de Djalma Amaral, toda criada em tons de âmbar, fecha a caixa do teatro sem o féerico dos circos comerciais, mas no proposital desgaste da lona mambembe. Um achado

Os figurinos de Paula Accioli e Henrique Gonçalves seguem uma linha simples, mas adereçada com muita criatividade. Os botons de ovo frito do palhaço Guaraná e as estrelas românticas aplicadas nas vestes de Goiabada caracterizam os tipos como pede o enredo. A caracterização do gorila Ping-Pong, uma atração à parte, superdimensiona a figura do ator sem atrapalhar seus movimentos.

Entremeando a trilha circense gravada com algumas inserções ao vivo, feitas pelo próprio elenco, o espetáculo tem a estética das miniaturas e dos brinquedos de corda, onde tudo funciona harmonicamente. Sem a usual imitação do palhaço que grita para se comunicar com a plateia, ou o abuso do gestual histriônico convencionalmente usado no teatro para homenagear o circo, a peça aposta na composição de personagens. Sai ganhando o público.

Cotação: 2 estrelas (Bom)