Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 18.04.2004
O Circo Fantástico: Tom didático e trama dispersa que acabam confundindo o seu público-alvo
Sobram boas intenções, e falta perícia ao autor
Entusiasmado com as aulas sobre a evolução da vida na Terra, em especial, com aquelas que falam sobre os pássaros e sua incrível capacidade de voar, um grupo de amigos procura uma forma de vivenciar as mesmas sensações. Como não têm asas, resta a eles investir no aprendizado das acrobacias aéreas. A partir daí se desenvolve a história de O circo fantástico, em cartaz no Teatro Ipanema.
A trama poderia ser bem simples, mas o autor da peça, Fábio Florentino, talvez procurando sofisticar ou enriquecer o texto, incluiu uma série de informações antes de entrar na história principal. O resultado disso são praticamente duas peças em uma, a primeira justificando a existência da segunda. Na “primeira”, que precede os números de acrobacia e malabarismo, as crianças ouvem falar da evolução da espécie humana, das invenções de Santos Dumont, dos malabaristas da Idade Média… enfim, de assuntos tão variados que acabam se desligando do que está sendo encenado. E quando não há empatia com o que está sendo visto no palco, é inevitável a dispersão do público infantil.
A “segunda” peça, a que mostra os preparativos para a criação do circo e os números circenses propriamente ditos, também tem alguns problemas. O maior deles, sem dúvida, a dispersão da trama. O que acontece em cena são muito mais conversas do que propriamente ações. A preocupação do autor em dar ao espetáculo um tom didático acaba se transformando numa armadilha para ele.
Como diretor de O circo fantástico, Fábio não consegue amenizar as falhas do texto.
Nas primeiras cenas, ele ainda tenta o recurso da projeção de vídeos. Mas isso não ajuda muito. Com a atenção dividida, o público encontra dificuldade tanto para ouvir o que está sendo dito pelo professor quanto para observar o que está sendo mostrado na tela. No fim da peça fica a impressão de que o texto é apenas um pretexto para a performance acrobática dos atores. Talvez a parceria com um diretor mais experiente pudesse ter ajudado a agilizar o espetáculo.
Entre os atores, destacam-se Luciano Mallmann, como Alex, e Mariana Terra, como Maribel. Maria Valentim, Renato Rocha e Renato Ferreira apresentam interpretações homogêneas, alguns saindo-se melhor nos números circenses, outros, na atuação. Já Wilson Machado, como Professor Florêncio, parece menos experiente do que o resto do grupo.
Cenários e figurinos contribuem com espetáculo
O figurino de Rui Cortez, prático e colorido, está de acordo com o espírito da peça. O cenário que ele assina com Alcino Giandinoto, formado basicamente por pufes coloridos, facilita a movimentação dos atores em cena. A iluminação de Aurélio de Simoni e a coreografia de Márcio Januário são corretos. Já a direção musical, de Fábio Florentino e Bruno Florentino, poderia ser um pouco mais elaborada. Há vários momentos de silêncio na peça que uma boa trilha incidental poderia preencher.
O circo fantástico é um espetáculo que, mesmo repleto de boas intenções, não empolga muito o público. Em grande parte, pela inexperiência do jovem autor, que, sem dúvida, ainda terá muito tempo pela frente para aprimorar-se no complexo campo da dramaturgia.