As coreografias são leves: um balé de galinhas, um pas-de-deux de um elefante e uma tartaruga

 

 

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 23.05.1999

 

 

 

 

Barra de Divisão - 45 cm

Respeitável público infantil agradece    

Domingo de manhã, sol quentinho, trânsito educado, vagas no estacionamento. O clima de ficção científica é reforçado quando se vê a plateia do Teatro Municipal do Rio de Janeiro lotada pelo respeitável público infantil que, silencioso, aguarda o que está por acontecer no palco. E o que está por vir não decepciona o atencioso espectador.

O Circo dos Animais, um espetáculo de dança do Teatro Municipal em parceria com o Teatro Colón da Argentina, é uma produção bem cuidada, que mistura no palco as técnicas do balé e do teatro e chega à plateia como puro entretenimento. Esse toque de business, talvez seja o grande trunfo da montagem. Nada muito rebuscado, apenas atraente para olhos e ouvidos, mas sem dúvida nenhuma, um bom motivo para a jovem plateia estar no teatro. A primeira vez no teatro Municipal, com um espetáculo feito só para ela.

Inspirada no Carnaval dos Animais, de Camille Saint- Saëns, escrito em 1886, o espetáculo ganha na adaptação um pouco mais de músicas do próprio compositor e outras mais populares com algumas vinhetas do Can-Can e a Morte do Cisne. Na versão da obra de Saint- Saeñs, José Varona e Carlos Trunsky, sabiamente optaram por ambientar a peça num circo, onde o teatro de variedades, parte da milenar tradição circense, comporta bem quadros avulsos. Assim o espetáculo que se inicia com burros e cavalos recebendo o público, tem como mestre de cerimônias um macaco, que ousadamente toma o lugar do maestro Sílvio Barbato, como regente da orquestra. Essa inovadora brincadeira e outras que se estendem pela plateia, são interessantes toques da direção teatral de Raquel Sokolowicz. Quebrar regras, num ambiente tão solene torna o espetáculo mais aconchegante para seu publico.

Os quadros que se seguem incluem entre outros um balé de galinhas, um pás de deux de um elefante com uma tartaruga, o sapateado das sereias e um solo muito interessante de uma vedete crocodila. Todos muito bem vestidos pelos figurinos de José Varona, que retratam animais, sem que estes se pareçam com bichinhos do mau teatro infantil. Também têm impacto os cenários com assinatura do mesmo artista, que retratam o circo com suas arquibancadas o circo com suas arquibancadas e picadeiro. Os telões pintados lembram figuras dos livros infantis. Uma referência delicada ao gosto do público. As coreografias de Carlos Trunsky são leves e bem humoradas. Nesse humor se destaca o improviso do coro quando dança o popular que está na TV e nas bandas do axé music, em pequenas vinhetas. Essa é uma outra boa ideia de mistura de estilos. É popular sem ser popularesco.

Com todos esses atributos, o espetáculo apenas peca com o excesso de volta à cena e isso acontece da metade para o final, dos personagens que já fizeram suas apresentações. Um tour desnecessário que acaba lembrando as apresentações de final de ano das academias. Fora este pecadinho, tudo vai bem no palco. A nova plateia agradece.

Cotação: 2 estrelas (Bom)