Poesia e lirismo – Texto dirigido por Cacá Mourthé, sobrinha de Maria Clara, é bem defendido pelos atores do Tablado: elenco a vontade

Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Ricardo Schöpke – Rio de Janeiro – 24.04.2010

Fantasia com a marca de Maria Clara Machado

Remontagem do clássico espetáculo do Tablado faz jus à obra da autora. 

No ano de 1951 surgia no Rio, o grande divisor de águas do teatro para a infância: O Tablado. Ele foi fruto da iniciativa de jovens amadores de teatro e estudantes da PUC, que criaram um novo conceito de teatro para as crianças. À frente desta empreitada estava a grande dama do teatro infantil: Maria Clara Machado (1921 – 2001). O Tablado foi durante todos estes anos uma referência do melhor teatro amador realizado no Rio e no Brasil, e por onde passaram muitos atores que despontam na carreira, a exemplo Malu Mader, Cláudia Abreu, Louise Cardoso e Maurício Mattar.

Atualmente no Tablado podemos ver a sua encenação de O Cavalinho Azul, texto cinquentenário de Maria Clara. O espetáculo, já encenado em 1966,1979 e 1990, em 2001, foi repaginado sob a forma de ópera, com músicas e libreto do maestro Tim Rescala. A atual montagem, que reestreou em 21 de março – após uma pequena temporada em 2009 – conta a saga do menino Vicente que, em companhia da amiga que conhece no circo, percorre o Brasil em busca do estimado cavalinho vendido por seus pais, uma família pobre com dificuldades de arcar com os custos de sobrevivência do animal (um pangaré marrom, na visão dos adultos; um lindo cavalinho, na visão do menino). No percurso, eles enfrentam os mais variados obstáculos, seguidos pelos gananciosos músicos que sonham em ganhar dinheiro à custa de um cavalinho tão peculiar.

O cenário criado por Rogério Cavalcanti é encantador, com ambientes inspirados na década de 60 

A encenação do espetáculo é recheada de poesia e lirismo. Sobrinha de Maria Clara, a diretora Cacá Mourthé nos leva para um mundo repleto de pureza e beleza, recriando um ambiente de magia, há muito perdido no mundo contemporâneo. O final do espetáculo, quando Vicente reencontra o seu cavalinho, é um dos momentos mais marcantes dos palcos cariocas na atualidade.

O espetáculo é povoado por cavalos e elefantes, interpretados com grande destreza, precisão e minúcia por um ótimo conjunto de atores. Eles dão vida aos animais de forma impressionante, tanto que em alguns momentos, absortos pela fantasia, chegamos a duvidar se eles são mesmo de “mentira”.

O cenário de Rogério Cavalcanti é bastante encantador, com todos os ambientes carregados de poesia, remetendo à década de 60; a casa do menino, as projeções do campo – feitas pelos irmãos Renato e Rico Vilarouca – o circo do interior. O desenho de luz de Felipe Lourenço é integrado e colabora com a aura de sonho e magia que se estabelece. Os figurinos de Biza Vianna são apropriados para realçar o frescor e a ingenuidade da época; o short com suspensórios de Vicente, a menina do circo, os palhaços, os músicos, os soldados, a velha que viu. Colaboram também a ótima caracterização de Márcia Elias e as músicas de Reginaldo de Carvalho, com arranjos de Francis Hime.