Crítica Publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 17.03.2006
Bonecos, sombras e belo visual
O Cavaleiro da Mão-de Fogo só peca por deixar a trama em segundo plano
A Companhia Caixa do Elefante Teatro de Bonecos, do Rio Grande do Sul, comemora 15 anos de existência, com uma temporada no Centro de Referência do Teatro infantil no Teatro do Jockey.
O grupo trouxe três espetáculos, dentro eles, O Cavaleiro da Mão-de-Fogo, exibido aos sábados e domingos, às 18h30. Trata-se de uma livre adaptação da obra homônima de Javier Villafañe, feita por Mário Pirata.
O Cavaleiro da Mão-de-Fogo se origina das constantes pesquisas de um grupo que desenvolve trabalho sério dentro do teatro de formas animadas, tendo já representado o Brasil em festivais de diversos países. Porém, a estrutura dramatúrgica desse espetáculo, em particular, inspira ressalvas que podem ser produtivas.
Pioneiro dos bonequeiros argentinos, Javier Villafañe é considerado uma lenda em seu país e pelos profissionais do teatro de animação no mundo todo. Mário de Ballentti assina a direção, a cenografia e a adaptação do texto, cujas excessivas digressões dificultam a compreensão dos pequenos, como o trava-língua criado com os nomes de Xuxa e Sasha.
O Cavaleiro da Mão-de-Fogo se preocupa em mostrar, através de belas imagens, as aventuras interdependentes de quatro personagens antes de chegar à história propriamente dita do herói que dá título à peça. No entanto, não se cria um fio contínuo de conflito ascendente que leve a um clímax após a apresentação das peripécias.
Esta forma de contar segue uma estrutura tradicional que costuma prender a atenção das crianças. Entre os grupos de teatro de animação, é uma constante a utilização de todo tipo de técnica possível para priorizar o efetivo visual sobre a história.
Com certeza as profusões de imagens impressionam pela técnica e pela qualidade. Mas a história fica por vezes em segundo plano, causando uma certa dispersão, já que criança gosta de histórias bem estruturadas dramaturgicamente.
O Cavaleiro da Mão-de- Fogo se utiliza de marionetes de fio e do teatro de sombras apoiado em uma tecnologia contemporânea, com retroprojetores, fotolitos e não a partir do teatro de sombra chinês, artesanal, que exerce um outro tipo de apelo sobre a plateia. São técnicas complexas, que exigem envolvimento quase integral e às quais o grupo se dedica especialmente. Mário de Ballenti e seu grupo são referência deste tipo de teatro de animação.
O teatro de sombras e os bonecos de fio se alternam no palco, sendo que a maior parte do espetáculo se faz na técnica de sombras, com efeitos que lembram um filme de imagens animadas. Na trama Tranças-de-Ouro, filha do Rei-da-Ilha é raptada por um terrível Bruxo. O rei convoca cinco bravos cavaleiros para resgatá-la, mas somente um, aquele que luta com a verdadeira força do amor, é capaz de salvá-la.
O cenário é um grande pórtico de um castelo muito bem iluminado por Bathista Freire. A trilha, gravada e assinada por Celau Moreyra, é grandiloquente, com vários instrumentos – trompetes, violoncelos, teclados, clarinetes e saxofones – remetendo às trilhas dos filmes de aventura. Os atores-manipuladores são Fernando Dal’Osto, Juliano Rossi, Paulo Balardim e Rafael Dal’Osto.
Os outros espetáculos exibidos pelo grupo são Histórias da Carrocinha, às 11h, e Encantadores de Histórias, às 17h30