O Castelo das Sete Torres: o profissionalismo de uma produção para crianças, com a participação de Luís Carlos Niño e Elke Maravilha.

Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Ana Maria Machado – Rio de Janeiro – 19.01.1979

Barra

Sete Torres de Sonho e Bom Teatro

No palco do Gláucio Gill, ergue-se um castelo de fantasia para as crianças e os adultos que sabem preservar em si a infância. Partindo do excelente texto de Benjamin Santos, inteligente, humorístico, poético, o diretor Luís Mendonça soube criar com O Castelo das Sete Torres um dos mais belos momentos de nosso teatro infantil recente. A peça é bastante complexa e um tanto longa, com mais de hora e meia de duração, o que não a aconselha para os muito pequeninos ou com dificuldade de concentração, embora também estes sejam capazes de se deixar fascinar por detalhes e aspectos isolados da encenação. Mas é sobretudo aos de mais de cinco anos que ela se dirige. E se dirige muito bem. Apesar de alguns leves problemas de ritmo e uma certa falta de pique na estreia (sobretudo nas sequencias mais narrativas, ainda bastante cortadas do resto), o espetáculo em seu conjunto é fascinante e tem tudo para fazer uma longa carreira de merecido sucesso. O texto é um desafio, em sua generosa incorporação do sonho e da fantasia, a par de uma discussão das pressões do Poder e da autoridade, tudo isso perpassado de um amplo sopro de cultura brasileira. Há elementos das histórias de fadas tradicionais, do romanceiro popular, dos mamulengos nordestinos, da literatura de cordel, inclusive com a abolição de fronteiras de tempo e espaço que caracterizam essas formas de criação.

Para levar isso tudo ao espectador, Mendonça teve o apoio de uma produção cuidadosa que lhe permitiu recorrer a excelentes profissionais com especiais destaques para o trabalho conjugado de música e coreografia, a cargo de Caíque Botkay e Rachel Levy. Os figurinos e cenários de Laerte Thomé também estão ótimos e a iluminação de Jorginho de Carvalho tem a qualidade de sempre. O elenco dá conta do recado direitinho, de modo bastante homogêneo, mas inevitavelmente é dominado pela fortíssima presença cênica de Elke Maravilha.

Em meio a uma montagem de nível geral tão bom, impossível deixar de assinalar algumas cenas de maior impacto, que apontam o caminho a ser desenvolvido à medida que o ritmo for ficando mais rigoroso: a ordem transmitida de um nobre a outro, a entrada do mamulengueiro, o frevo, a apresentação de genealogia familiar… Momentos de pura beleza que elevam o espetáculo e justificam uma recomendação entusiasmada para O Castelo das Sete Torres.