Crítica publicada na Revista Isto É
Por Macksen Luiz – Rio de Janeiro – 21.02.1979
O Castelo das Sete Torres
De Benjamin Santos. Direção de Luís Mendonça. Com Elke Maravilha, Ana Lúcia Torres, Rose Addario, Luís Carlos Niño e outros. Teatro Glaucio Gill, Rio.
De um bom texto de teatro infantil é lícito esperar que não ofenda a inteligência da criança, que seja comunicativo e que, sob nenhum pretexto, aborreça a plateia. O Castelo das Sete Torres, de Benjamin Santos, não transgride qualquer dessas regras básicas, e talvez por isso tenha conseguido o primeiro prêmio no Concurso de Dramaturgia do SNT há dois anos. Mesmo sem conhecer os outros textos concorrentes, é possível afirmar prêmio merecido. A história do rei-infante, que é obrigado a assumir as pesadas responsabilidades de governar, quando os seus desejos eram o de permanecer apenas como garoto sonhador, é contada com detalhes de uma boa aventura folhetinesca. Para ajudar na criação do clima de suspense, é escolhida a rainha-avó (Elke Maravilha), que, a exemplo das boas contadoras de histórias, vai envolvendo a plateia nas complicações de seu neto-rei. Ao contrário da maioria das histórias infantis escritas para o palco, O Castelo das Sete Torres não recua da ousadia de utilizar o método tradicional da narrativa oral para crianças (era uma vez, e aí aconteceu), ampliado pelos recursos de ação do teatro. Mas o texto é, basicamente, um daqueles historiões para crianças, nos quais a coerência é estabelecida através do mágico, não da lógica.
A fabulação evolui com muitos desvios, a história vai e vem interrompida por acontecimentos que a tiram do rumo que se imaginava. As crianças, é verdade, se espantam um pouco com essa velha forma de narrativa, instaladas como estão na cômoda progressão de fatos projetados nos desenhos animados ou nos seriados da televisão. Os menores, com menos de sete anos, seguramente pouco percebem do que acontece, mas os maiores se envolvem na ação, parecendo identificar-se com a fantasia do pequeno rei. O texto estimulou o produtor Rodrigo Farias Lima a montá-lo e, seguindo a sua tradição de competência profissional, escolheu Luís Mendonça para a direção e reuniu um elenco de bom nível. O resultado é quase encantatório. No palco despido, utilizando apenas os figurinos e adereços de Laerte Thomé, músicas de Caíque Botkay e com a forte e comunicativa presença de Elke, o público que lotava no último fim de semana o Teatro Glaucio Gill se deixava conquistar. E pelo menos a cena onde é cantado o frevo dos insetos não deixa dúvidas sobre a comunicabilidade do espetáculo. A inteligência e a fantasia das crianças são respeitadas e a peça ainda consegue divertir, o que é raro no teatro infantil.