O Castelo das Sete Torres com Elke Maravilha, Ana Lúcia Torre, Rose Addario e Denise Assunção.

Crítica publicada na Tribuna da Imprensa – Teatro Infantil
Por Lena Brasil – Rio de Janeiro – 28.02.1980

 

 

 

 

 

Barra

Como prender a atenção infantil

O maior mérito de bom trabalho infantil é exatamente fazer um espetáculo para crianças. Por mais redundante que pareça a proposta, é grande o número de boas peças, feitas para o mini público nesse ano que passou e que, apesar de boas, deixam as crianças a solicitar o tempo inteiro “quero pipoca”, “quero chocolate” ou “me leva pra fazer xixi”, num total descaso pelo que está se passando em cena. Assim foi em O Castelo das Sete Torres onde nem o imenso carisma de Elke Maravilha conseguia prender a atenção das crianças para um dos mais bonitos textos para teatro infantil. Texto do excelente Benjamin Santos que em seguida nos deu O Pavão Misterioso. Ainda no premiadíssimo Fala Palhaço, indiscutivelmente um dos melhores espetáculos da temporada e que, em determinadas cenas discursivas, os pequeninos se agitavam desatenciosos. Claro que não estamos cobrando uma postura passiva de espectador adulto mas, o que fazer para interessar a criança ao longo de 50 ou 60 minutos de encenação?

Nos dois exemplos acima havia por parte da direção, um ritmo ágil, um excelente visual, figurinos e adereços atraentes e bons atores, tudo isso formando um conjunto homogêneo que, inclusive, justificou diversas premiações. Não afirmamos que as crianças não tenham curtido esses espetáculos, mas, eles estão longe de ser o grande programa que as crianças gostariam de ver e rever.

Como justificar, então, que espetáculos de pior ou nenhuma qualidade atraiam e prendam tanto a atenção? Sabemos que as “Brancas de Neve” da vida, assim como os três porquinhos ou os lobos maus vivem de casa cheia entra ano sai ano. Embora não tenhamos testemunhado recentemente nenhum destes descalabros (no parecer de Licinio Neto que nos cobra uma visitinha ao Teatro de Bolso e ao Teresa Rachel, templos absolutos desse tipo de produção) sabemos que a criançada vibra torcendo contra a vovozinha, ou dedurando os três porquinhos ao lobo mau. Será que não é à toa que permanecem vivas entre nós, a floresta, o lobo, coisas que nunca vemos nas nossas andanças mas que nos é eternamente familiar? Ou será que nossos autores e diretores teatrais ainda não acharam a maneira certa de falar de Macunaíma, Sacy Pererê, Lobisomen, Iara ou Ceuci?

Em Com Panos e Lendas, texto de José Geraldo Rocha e Wladimir Capela, com direção do último e de Ivan Merlino, a direção quase consegue evitar o inevitável, mas dá de cara com os famosos “bifes”, que se alongam em cenas desnecessárias desviando a atenção das crianças.

Com Panos e Lendas é literalmente armado em torno de panos e lendas brasileiras, com uma riqueza de soluções pouco vista. Assim é que, em cinco minutos de cena seis atores representam um número bem maior de personagens, utilizando panos e mais panos, na frente do espectador, sem que isso tire o brilho do truque e sem que ele precise de muita atenção para distingui-los. Até mesmo elementos naturais, como a água e o fogo são facilmente identificáveis. Mérito também do elenco tendo à frente Nádia Carvalho, uma das raras atrizes que não só canta bem como canta interpretando bem; de Helena Rego, presença sempre notada em cena, de Marco Miranda e de Ivan Merlino. Ainda no elenco Otávio César e Angela Dantas.

As músicas e a direção musical de Alfredo Machado enriquecem o espetáculo e, provando um bom trabalho de conjunto, estão sempre paralelos ao ritmo da direção, num perfeito entrosamento.

Com Panos e Lendas tem um currículo de 10 prêmios e seis indicações (essas no último Mambembinho). Montado em São Paulo em 78, só aí ganhou três Mambembe, dois Governador do Estado, um Moliére e ficou entre os cinco melhores do SNT e da ARCA.

Com Panos e Lendas é uma linda festa para os olhos, para os ouvidos e para o coração, principalmente daqueles mais crescidinhos e esse é o seu único senão.