Sônia de Paula (D) protagoniza uma Dona Baratinha em espetáculo que resgata a fantasia no palco


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 06.07.1996

 

Barra

O teatrão revisitado 

Muitos anos atrás existia um teatro onde tudo funcionava melhor do que na vida real. Na pequena caixa de cena eram montados cenários faraônicos com escadarias que davam para o andar de cima da casa. Janelas se abriam para varandas e jardim de onde se podia avistar o mar. Nas mesas fartas do palco se comia muito bem. Grandes jantares, à luz de velas, aconteciam sob o truque dos refletores. A esse teatro com todos os detalhes realistas costumou-se chamar de teatrão. E, às vezes, é dele que temos saudades.

Muito oportunamente, O Casamento de Dona Baratinha, em cartaz no Teatro de Arena, resgata a fantasia do teatrão para as crianças. Acostumadas a terem que imaginar o cenário da ação, às vezes só indicados por adereços cênicos, é uma grata surpresa assistir a uma montagem que ressalta abem contada história, sem se descuidar da fantasia.

O texto de Luiz Roberto Pinheiro, para uma história já conhecida, com final trágico, que, na maioria das vezes, é suprimido, não só mantém o final original, como acrescenta outros elementos da interferência na ação, criando, com esses pequenos detalhes, um convite à participação da plateia.

A história convencional ganha novas cores quando o autor substitui a romaria à casa de Dona Baratinha por um carnaval, onde estão de uma vez só todos os seus pretendentes. Como elemento de conflito, é criado o personagem Dona Gansa, uma vilã das melhores que usa todos os tiques das bruxas das histórias infantis, até mesmo a gargalhada sinistra, para provocar a plateia. A direção de Tina Ferreira conduz a encenação para o público a quem foi destinado dentro do maior rigor. O deslize de parte do elenco para agradar à plateia adulta parece ser um solo independente de ator que acaba prejudicando a linha do espetáculo.

Os cenários de Carlito Ferreyra transformam o palco do teatro de arena em italiano, com muito bom gosto. A Casa de Dona Baratinha é ambientada num bule quebrado, deixando a mostra uma sala de jantar, com todos os seus adereços. Em volta, um jardim pintado em madeira recortada faz sair de uma das pranchas o conversível vermelho de D. Ratão. Eficiente e criativo para um espaço tão pequeno. Os figurinos de Marcello Marques seguem a linha proposta da direção em seu teatro clássico. Destoante apenas a roupa do musical final, que atrapalha Dona Baratinha em seus movimentos coreográficos.

No elenco, Sônia de Paula é a protagonista encarando seu personagem sem concessões para uma plateia que, na verdade, vem a reboque. O teatro infantil é para crianças. E essas apreciam verdadeiramente o que assistem. Seja com a comédia proposta por Lucia Barufhaldi, no seu papel de vilã, com o anticlímax do final trágico, ou com o convencional teatro de mensagem.

O Casamento de Dona Baratinha tem ainda trilha musical divertida de Tereza Tinoco e Maria Luiza Dantas ampliada pelos arranjos dançantes de Ed Lincon, que, junto aos demais elementos do espetáculo, trazem ao palco, de novo, a velha fórmula da diversão.

Cotação: 2 estrelas (Bom)