Matéria publicada em O Globo – O Globo nos Teatros
Por Gustavo Dória – Rio de Janeiro – 05.10.1948
O Casaco Encantado
Dentro de alguns dias, a 24 deste mês, teremos uma estreia que, por vários motivos, se pode classificar de extra, dentro de nossas habituais atividades teatrais.
Trata-se da encenação de uma peça escrita especialmente para uma “plateia infantil”, montada por um elenco de profissionais e dos de maior importância que se encontram em atividade entre nós: lembrar e repetir que criança aqui vive ao desamparo no que diz respeito a diversões próprias à infância é repetir um lugar-comum por demais batido: e que jamais encontrou qualquer repercussão por parte de quem de direito.
Salvo raríssimos empreendimentos particulares como, por exemplo, esse benemérito “Teatro do Gibi”, uma sucessão de vitórias.
Graças ao esforço maravilhoso de Iolanda Fagundes ou então uma ou outra tentativa esporádica, como o Teatro de Crianças da A.B.C. e que teve a direção de Olavo de Barros, pouco se conhece sobre o interesse de elementos de teatro profissional em oferecer espetáculos a crianças, com originais escritos especialmente.
Por isso é que mais um favor, ficamos a dever a essa atriz e diretora que vem empregando sua atividade a fundo em prol de nosso teatro, oferecendo sempre a oportunidade a novos elementos e agora se voltando para a nossa criançada e oferecendo-lhe um régio brinde: O Casaco Encantado.
Mas se o louvor merece Henriette Morineau por essa iniciativa, digamos ainda que muito mais ganhará o público,de vez que num só original, três estreias se verificam: um novo autor: Lúcia Benedetti; um novo diretor: Graça Mello, e um novo cenógrafo: Nilson Pena.
Lúcia Benedetti é a cronista de todos reconhecida, um elemento de valia em nossas letras e que traz para o teatro a responsabilidade de seu nome e a certeza de que pelo menos, de sua lavra teremos sempre alguma coisa feita com segurança e o conhecimento de alguém que não busca de um sucesso fácil, porém a consolidação de um nome que muito vale e que na verdade e a única coisa que importa a um autor consciente Graça Mello, elemento dos melhores em nosso teatro, aos louros de bom ator, certamente juntará os de diretor de valia enquanto Nilson Penna, infatigável colaborador de todos os elencos, amador apaixonado de teatro mostra um novo setor de suas atividades até então desconhecido.
Conforme se verifica, é, pois uma estreia auspiciosa e que certamente redundará num sucesso, uma vez que o original, no dizer do seu ensaiador e da sua estrela, é um verdadeiro achado que servirá não apenas de distração à criançada como de diversão, das melhores, para os grandes.
Aguardemos, pois essa estreia que merece todo o destaque possível e que fará certamente com que as crianças de nossa capital fiquem gratas a Lucia Benedetti por se ter lembrado delas na estreia de suas letras teatrais e a Morineau por ter tido um gesto que precisa e deve ser imitado por todos os seus colegas.