Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 26.09.1976
Carrossel Maravilhoso
O Carrossel Maravilhoso, de Washington Guilherme, em cartaz no Teatro Brigitte Blair, é um espetáculo que mostra claramente que uma direção hábil e um elenco seguro conseguem superar um texto simplesmente razoável. A direção de André Prevot, apesar de ser calcada em inúmeros lugares-comuns, demonstra noção de conhecimento artesanal. Sabe o que funciona.
Assim, o texto de Washington Guilherme (uma historinha com trama discutível, mas que não agride as crianças e ainda as diverte) serve de ponto de partida para uma produção que se preocupa com direção, cenários, figurinos, elenco. Isso tudo nos leva a uma indagação: que tipo de encenação sairia se o texto estivesse à altura dos demais elementos da montagem?
André Prevot, Luci Costa, Ítalo e Cindy estão muito à vontade e dão conta do recado. Dentro da linha imposta à interpretação (caricatura, comicidade “televisiva”, comportamento clichê) eles se saem muito bem. Quando vemos atores que funcionam bem no palco, têm boa comunicabilidade, senso de humor e timing, fica uma certa tristeza ao percebemos que toda essa capacidade está constantemente a serviço de um estilo de representação cheio de vícios, de cacoetes, de recursos fáceis. São atores que não procuram se desenvolver, não buscam renovar-se (apesar de alguns serem bem jovens). Até onde um talento verdadeiro não estará se perdendo pela rotina de realizar sempre e sempre certo tipo de espetáculo, insistindo na mesma linha de trabalho, se repetindo todos os dias e não evoluindo nada? Será que vale a pena? Valerá, em termos individuais, para a carreira de cada um? Valerá, em termos gerais, para o teatro brasileiro, sempre necessitado de bons atores?
A impressão que fica ao ver, ao ver determinados atores realizando sempre o mesmo trabalho, no mesmo lugar, anos após anos, é a da pessoa que não utiliza seu dinheiro para se divertir alegando que não o tem; mas que paga, mensalmente, as prestações para um belo túmulo. É o tipo de pessoa que não exerce suas potencialidades durante a vida e que está trabalhando, apenas, como uma preparação de sua própria morte.
Entre as três peças em cartaz no Teatro Brigitte Blair, o Carrossel Maravilhoso é a única que merece ser vista.