Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 08.06.1996

 

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Humor cotidiano tempera sátira da primeira guerra

O Bravo Soldado Schweik
 é uma sátira aos horrores da Primeira Guerra Mundial, escrita por Jarorlav Hasek pouco depois de o escritor voltar a Praga, sua cidade natal, vindo dos regimentos austríacos, onde prestou serviço no setor sanitário. Acredita-se que muitas das aventuras do soldado Schweik aconteceram com o soldado Hasek.

A versão que chega ao palco do Teatro Vanucci é uma criação de Bernardo Jablonski para a adaptação cênica de Antônio Pedro e Roberto Marinho de Azevedo. Mantendo-se fiel, à obra, Jablonski, que também assina a direção do espetáculo, pôs em cena o humor cáustico que permeia a sua vida e obra. Trocando os nomes dos personagens pelo de remédios conhecidos como Lexotan, Luftal e Reparil, Jablonski mantém a sonoridade do original e familiariza o espectador com a trama.

Schweik é o precursor dos heróis sem caráter, como Chance Garden de O Videota – Muito Além do Jardim ou Forrest Gump. Um homem errado no lugar certo, que passa pelas mais estranhas experiências, sem mudanças ou alterações de sua personalidade. A qualificação fatal, que destruiria qualquer personagem no teatro ou na literatura nestes casos, acentua os absurdos do comportamento social diante do que não conseguem decodificar. O bravo soldado passa pela guerra cumprindo ordens. Suas alfinetadas no comando são sempre em tom de elogio e concordância. Ditas com extrema sinceridade, as sentenças se transformam num maravilhoso jogo do contrário. Depois de ser preso e torturado por sua própria tropa, se perder do batalhão e ser confundido com um espião russo, Schweik, enfim, parte para o front, onde profetiza o fim das guerras até a explosão total.

A direção de Jablonski usa muito bem a juventude do elenco para criar um espetáculo vigoroso e cheio de ação. O texto de humor implícito ganha identificação imediata com a platéia, a parir de referências próximas, que o diretor põe em cena. A falsa subserviência da tropa diante da autoridade, feita com frases truncadas mas ofensivas e perfeitamente audíveis pelo público, lembram os conhecidos jogos de alunos e professor. O comunicado lido pelo comandante que desconhece a pontuação é outro achado de humor cotidiano. Concebido em quadros, o espetáculo mantém um agradável ritmo.

O jovem tem destaque em algumas atuações, como Lúcio Mauro Filho, compondo com exatidão o soldado Schweik, Maria Clara Gueiros, e seu humor muito especial para a enfermeira e para a inocente mocinha de Jundiaviski. Henrique Farias, muito bem, no tenente Pantelmin, Alessandro Moussa, Aldo Picini e Tadeu Mello, tirando partido de pequenos papéis.

O Bravo Soldado Schweik, feito por e para adolescentes, é um espetáculo que não se restringe à faixa etária, e conquista a platéia adula não só pelo oportuno tema, colocado com humor, mas pela qualidade da montagem.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)