Jalusa Barcelos, amendoeira em O Bosque do Coração do Brasil.
Foto de Marco Rodrigues

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 16.05.1992

Vasta plantação de chichês ecológicos

Existe tema oportuno e existe tema oportunista. Pelo volume da atual produção – concursos, montagens teatrais, literatura -, às portas da Rio 92, a ecologia vai acabar situada na segunda hipótese. Coincidência ou não, os textos teatrais que abordam a temática ecológica seguem, mais ou menos, o mesmo caminho: o homem mal quer acabar com o verde, poluir os rios e o mar; a natureza boa pede socorro às fadas, gnomos, curupiras, caiporas e crianças, que sempre conhecem uma ótima saída para todos os problemas.

O Bosque do Coração do Brasil, em cena no Teatro Villa-Lobos, com texto de Marcos Sá, segue a trilha deste enredo.
Concebida há dez anos, época em que a necessidade de faturar em cima do verde é lindo ainda se mantinha no nível do suportável, mesmo assim a peça não escapa das ciladas impostas pelo tema mal digerido. Lá estão a floresta que vai ser destruída pelo homem mau, a natureza boazinha que procura ajuda em deuses indígenas e finalmente a convocação das crianças da plateia para resolverem mais esse pepino.

Se a plateia coube a responsabilidade de salvar a natureza, a direção de Bibi Ferreira não foi dada tarefa mais fácil: salvar o espetáculo. No entanto, a pouca teatralidade do texto fez com que a performance chegasse pesada a cena, com a maioria dos atores estáticos no palco, já que os personagens que representam, com exceção do casal de passarinhos, são árvores centenárias que despejam o seu texto quilométrico sem muitas alternativas.

Mas se o texto propõe a imobilidade, a direção de Bibi Ferreira atenua o tom de jogral, cuidando da interpretação de seus atores. Maria Lúcia Priolli faz uma passarinha espevitada, agilizando ao máximo o ritmo das cenas de que participa. Paulinho Nigri, embora reforçando demais o sotaque caipira, acompanha bem sua partner. Jalusa Barcelos faz da sua amendoeira uma árvore bem simpática, com toques femininos na medida exata. Maria Cristina Gatti, como a cachoeira chorona, tira partido do seu natural humor com o gestual bem marcado, o mesmo acontecendo com o impagável Paulette, que consegue ser engraçado mesmo aprisionado na sua caracterização de cajueiro.

No teatro adulto, uma superprodução com cenários e figurinos monumentais e outras grandiosidade costuma ser chamada de teatrão. No infantil, talvez se chame teatrãozinho. Nos dois casos, vale a pena assistir um de vez em quando.

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