Matéria publicada no Jornal O Globo, Rio Show
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 23.04.1993

Os figurinos dos bailarinos e as caixas de acrílico que se movem pelo cenário exibem traços das pinturas de Paul Klee, lembrando garatujas e notas musicais

A música, grande paixão do pintor, está presente no palco através do balé e de uma trilha sonora que inclui do rock aos clássicos

Barra de Divisão - 45 cm

 

Barra de Divisão - 45 cm

O balé modernista das cores
Musical no Villa-Lobos apresenta a obra do pintor Paul Lee aos pequeninos

Um espetáculo inspirado na obra do pintor Paul Klee, um dos mestres do modernismo, com direito a bailarinos profissionais (formados por Angel Vianna), música pop e clássica (trabalhada por Caíque Botkay) e dramaturg filosofo (Cláudio Ulpiano), por si só já despertaria a atenção e curiosidade de qualquer público. Agora imagine tudo isso misturado em uma peça infantil. Foi exatamente o que fez o diretor André Monteiro, que estréia amanhã no Teatro Villa-Lobos o musical O Conquistador, disposto a descortinar o colorido mundo plástico de Paul Klee para os miúdos.

Com um sorriso nos lábios, André antecipa a óbvia e imediata pergunta “criança vai entender isso?” e elimina a dúvida:

Traduzir o universo de Klee para as crianças não foi difícil. Ele gostava de pintar as coisas da vida, era poético, solto. Sua principal meta era “fazer visível o invisível” e as crianças adoram brincar com o que não vêem. A base do trabalho é tentar desenvolver na criança a paixão pelo olhar, a paixão que desperta o invisível – define André. Nessa linha de pensar o teatro integrado com outras expressões artísticas, ele montou há dois anos a peça Lenda, baseada em uma escultura de Tunga.

A descoberta da sensibilidade

A história de O Conquistador gira em torno do garoto Ivan (José Mauro Brant) que, ao se apaixonar por Clara (Joyce Niskier), tenta dizer isso a ela por escrito. Perdido entre livros de poesia, Ivan desenvolve uma sensibilidade que o faz ver o que ninguém vê: figuras suaves que bailam a sua volta e o despertam para a beleza do ritmo e da música – outra paixão de Paul Klee. A metáfora é vivida pelos 15 bailarinos vestindo malhas pintadas a mão com fragmentos das pinturas de Klee, que tanto podem lembrar garatujas infantis como sugerir formas de notas musicais.

– O texto é alegre e as músicas que vão do rock ao erudito ganharam arranjos  lindos do Botkay. A peça parece uma caixinha de música – descreve André.

O primeiro contato  das crianças com as obras de Klee acontece ainda no saguão, onde 20 reproduções da obra do artista estarão expostas. E o mais importante: ao alcance dos olhos pequeninos.

– A arte parece estar sempre acima das crianças. E a chave da peça e essa: simplesmente não compliquei a historia – arremata o diretor.

O elenco conta ainda com Luiz Carlos Tourinho, Fernando Giraldez, Alexandre David e Margot Bohrer.

Em busca do invisível

Paulo Klee nasceu (em 1879) e morreu (em 1940) na Suíça, embora tenha vivido a maior parte da sua vida na Alemanha, onde estudou e despontou para a fama. Dono de traços sofisticados, sempre foi apaixonado por pintura  e musica  pela e, na Orquestra Sinfônica de Berna (Suíça), tocou violino durante alguns anos. Mas tinha a certeza de que não era esse o seu caminho. A fascinação pela melodia acabou rendendo toda uma expressiva obra plástica sobre o tema.  Da estreita ligação entre as duas linguagens, ele falou certa vez: “As duas artes são certamente  de uma natureza temporal, se poderia demonstrar facilmente”.

Procurando o som ou a forma da cor, ou a cor e o desenho do som, Klee buscava sempre o que não e retratar a superfície (para isso existe a fotografia), mas penetrar o interior. Refletir em meu espelho ate o coração..”, sentenciou ele.