O elenco da peça, uma adaptação de Bruno Bacelar, também diretor, é bastante homogêneo

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 20.02.2005

 

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O Avarento Harpagão: Uma peça simpática que apresenta Molière às crianças

Pão-duro e muito engraçado

No palco de arena do Teatro Maria Clara Macha, os atores de uma trupe mambembe contam a história de um homem muito rico que vive preocupado em esconder a sua fortuna. E para aumentá-la ele é capaz de tudo, até de casar seus dois filhos com bons partidos, ignorando totalmente os sentimentos deles – embora ele mesmo tenha de se casar com uma moça jovem e bonita. A história parece familiar? Nesse caso a semelhança não é mera coincidência, já que o espetáculo O Avarento Harpagão é uma adaptação da peça O Avarento, de Molière.

E é justamente o descontentamento com a imposição do pai que vai movimentar toda a trama. Contando com a cumplicidade de seus amados, Valério e Mariana, e com a ajuda de esperta criada Frosina, eles conseguem reverter a situação. Mas até o desenlace da história, o público é surpreendido por uma série de fatos inesperados.

A adaptação de Bruno Bacelar é bem fiel ao original, utilizando, é claro, uma linguagem mais simples para facilitar a compreensão do público infantil. De qualquer forma, é uma peça com muitos diálogos, que certamente serão mais facilmente assimilados por crianças não muito pequenas. A direção, também de Bruno Bacelar valoriza elementos da commedia dell’arte, como trabalho de corpo dos atores, a improvisação e a cumplicidade com a plateia.

O ambiente criado pelo cenógrafo André Sanches é bem propício para as duas histórias que seguem paralelas: a dos atores mambembes e a dos personagens de Molière. E essa dualidade já começa a transparecer no começo do espetáculo, quando as crianças entram no teatro e se deparam com um dos atores da trupe arrumando o cenário para a peça que vai ser apresentada ao público. Tudo é muito simples e prático: tablado de madeira, uma mesa e alguns banquinhos redondos que ele arruma nas laterais do palco. Na parte de trás, apenas duas surradas cortinas, um cabide com algumas roupas do figurino e uma mesa com objetos de cena. É sempre interessante para o público infantil perceber esse processo do teatro dentro do teatro, o que fica muito claro quando, sentados em seus banquinhos, os atores da trupe comentam entre si o que está acontecendo na cena. O elenco formado pelos atores Ana Paula Rodrigues, Adelmo Miani, Flávia Pepe, Leonam Thurler, Luciana Fontenelle, Ricardo Romão e Rodrigo Faria, é bastante homogêneo.

A direção musical de Carlos Café se destaca no espetáculo. As inserções musicais, vão não só pontuando, como também comentando o que se passa no palco, são muito ricas. Principalmente por serem feitas ao vivo, pelos próprios atores, que tocam diferentes instrumentos. O figurino de Augusto Pessoa, bem simples e despretensioso, é próprio para uma trupe de atores mambembes, e a iluminação da Cia. Muito Franca!, adequada à montagem.

O Avarento Hapagão é um espetáculo muito simpático, que tem o mérito de apresentar às crianças um clássico de Molière, de forma leve e divertida.