Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 12.08.2016
Magia medieval e tecnologia de ponta reunidas em grande espetáculo.
Graças a uma feliz conjunção de talentos, tudo funciona em O Aprendiz de Feiticeiro, em cartaz em São Paulo (SP) até novembro
Muitas vezes, felizmente, entra em cartaz uma peça com tema já muito explorado e enredo bastante conhecido – mas ainda assim a montagem consegue nos surpreender por sua qualidade e pela conjunção de talentos no palco. É a magia do teatro.
Isso cai como uma luva para o espetáculo infanto-juvenil O Aprendiz de Feiticeiro, direção certeira de Eduardo Figueiredo, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em São Paulo (SP), sempre aos sábados pela manhã, até novembro. Temporadas longas precisam realmente ser comemoradas, pois se tornam cada vez mais raras!
A trama é inspirada em Goethe (poema Der Sauberlehrling, escrito em 1797), com referências a Walt Disney (filme Fantasia) e J.K. Rowling (série Harry Potter), entre outras. Arthur, garoto estudioso, sofre bullying no colégio, até que, por uma mágica inexplicável, vai parar dentro do enredo de um game de celular sobre as aventuras de um feiticeiro chamado Ambrósio. É assim que aprende a se defender do bullying do mundo real.
A peça mescla tecnologia com magia de forma inteligente, atualizando a trama para a geração de hoje, com bastante ritmo, agilidade e fluência. O texto é assinado por Antonio Calmon, veterano autor de telenovelas e roteirista de filmes, estreando no teatro para crianças. Por tudo o que se vê em cena, sua parceria com o diretor Figueiredo estabeleceu-se de forma harmoniosa e rica.
O Aprendiz de Feiticeiro é daquelas peças em que tudo dá certo. Um programa para toda a família, por mais que essa já seja uma frase-chavão. Saí do teatro com a sensação de ter visto um grande espetáculo, que me divertiu muito e, ao mesmo tempo, tratou de temas importantes e ensinou ao público valores como amizade e solidariedade de forma nada maçante, ao contrário, com muita leveza e graça. É o melhor tipo de teatro: o que ensina sem ser aula, sem a obsessão pela lição explícita ou o dedo em riste.
O elenco é ótimo. Maurício Machado, como o feiticeiro Ambrósio, poderia ter posto tudo a perder, se tivesse feito o personagem muito a sério. O tom que adota, certamente com o apoio da direção, é brincalhão o tempo todo – o que faz toda a diferença para que seu personagem tenha carisma e dê seu recado sem ser chato nunca. Guilherme Lobo, como o garoto Arthur, imprime credibilidade total a uma espécie de primo brasileiro de Harry Potter. Júlio Oliveira, que recentemente comentei estar muito exagerado na peça Eu Nunca (em que era dirigido por ele próprio), consegue desta vez (nas mãos de outro diretor) ser hilário e expressivo na medida certa, no papel duplo do valentão Fred e do afetado Príncipe Frederico. A plateia vem abaixo com suas estripulias em cena.
Não posso também deixar de citar mais uma vez a competência de outros nomes da ficha técnica, que muito contribuíram para a qualidade geral da peça: uma trilha especialmente composta (luxo!) por Guga Stroeter e Matias Capovilla, um vistoso desenho de luz a cargo de Guilherme Bonfanti, a impecável direção de arte, cenografia e figurinos do mineiro Marcio Vinícius, o belo visagismo de Anderson Bueno e a acertada criação de bonecos, por Anie Welter e Renata Andrade. Um time de primeira a serviço do melhor teatro que nossas crianças e jovens merecem.
Serviço
Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Álvares Penteado, 112 – Centro – São Paulo
Sábados, às 11h
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Informações: (11) 3113-3651
Até 12 de novembro