Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 20.08.1977

Barra

Anão doceiro faz doces ruins 

O Anão Doceiro e as Sete Feiticeiras, peça de Regina Darze da Cunha que esteve em cartaz no Teatro Brigitte Blair, voltou a ser encenada na Tijuca, inaugurando mais uma sala de espetáculos. Pena que essa sala (cedida pelo Country Club da Tijuca) seja tão limitada, pois nem palco há: existe apenas um tablado e de pouca altura, o que cria pouca condição de visibilidade. O espaço para a representação é mínimo e os atores têm que ficar se encolhendo para não se esbarrar.

Talvez fosse preferível mexer na estrutura da sala para criar um espaço mais versátil, mesmo diminuindo o número de lugares. Isso certamente daria, aos pais, maiores motivações para levar seus filhos até lá. Do jeito que está a sala, a impressão que predomina e a dá improvisação: e esse é um argumento negativo quando se procura firmar um local que ainda não é um ponto.

Mas a frustração do pai que leva seu filho ao teatro do Country Club da Tijuca não para apenas na falta de recursos da sala. Ela aumenta gradativamente com o desenrolar da peça. A improvisação prossegue com a concepção (?) dos cenários de Jorge Cunha: desenhos aplicados a cortina de fundo, num péssimo acabamento. A movimentação dos atores vem acrescentar mais dados negativos: a direção em nenhum momento se preocupou em compensar as limitações da sala com uma utilização mais criativa do espaço. O que acontece e que o público já sabe tudo sobre entradas e saídas dos personagens nos primeiros 15 minutos do espetáculo e os atores se esforçam para ficar à vontade entre tanto aperto e tantas marcas forçadas. (Será que o diretor Luís Antônio tem alguma responsabilidade sobre essa remontagem? Se não tem, quem assina essa encenação?). A coreografia (?) de Elisa Simões limita-se a um balançar para lá e para cá a partir (vagamente) de musicas norte-americanos. As atrizes parecem pedir desculpas pelo que estão fazendo. No seu trabalho, de um modo geral, não há verdade, climas, relacionamentos, impulsos, objetivos. Estão absolutamente perdidas. E a culpa não parece ser delas e sim de uma total ausência de personagens vivos, de sinações coerentes e de conhecimento teatral por parte da direção.

Há, entretanto, um aspecto onde as responsabilidades devem ser divididas entre a atriz (Kátia Niemeyer/ Anão Doceiro), a direção (?) e a produção (Jorge Cunha). É inconcebível que numa apresentação pública, principalmente para crianças, nossos ouvidos sejam atingidos por espantosos erros de português, Kátia Niemeyer assassina todos os plurais, erra a maior parte das concordâncias e tem uma frase que nos impulsiona a levantar e ir embora. Vejam que primor:

– Os ovos para fazer meu bolo quebrou.

Coisas como essa são absolutamente inacreditáveis num espetáculo gratuito; quanto mais num espetáculo que cobra direitinho o ingresso de adultos e crianças.

O texto de Regina Darze da Cunha tem os mesmos defeitos do espetáculo: falta de informação teatral. A trama é tola, algumas vezes é arbitrária e contraditória. Quando a peça precisa, as fadas fazem encantamento; quando a peça precisa, as fadas já não fazem encantamento. A transformação final dos personagens maus (?) em bons (?) não é causada por qualquer motivação psicológica, mas simplesmente porque esta na hora de terminar.

Os pais, principalmente os da Zona Norte, certamente gostariam que essa nova sala de espetáculos na Tijuca tivesse mais condições físicas e um melhor repertório. Esperamos que isso ainda aconteça.