Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 12.06.2015

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O bullying que dói na boca do estômago

Pedro Garrafa brilha como autor e diretor de O Alvo, peça urgente e necessária sobre o mundo das adolescentes de colégios para ricos

Bullying realmente virou palavra da moda, usada de forma nem sempre adequada e já ficando bastante desgastada. Mas o assunto é muito sério. Muito sério, mesmo. Quanto mais boas peças tivermos sobre o tema, mais chances de atingir o público-alvo, que lida com isso e sofre com isso, quase sempre de forma calada e introspectiva. Em O Alvo, em cartaz só aos sábados, às 17h30, no Teatro Livraria da Vila do Shopping JK Iguatemi, em São Paulo, mais uma vez o tema é tratado com talento, segurança, firmeza e seriedade.

Texto e direção são assinados por Pedro Garrafa. Ouso dizer que é o espetáculo mais “urgente” em cartaz atualmente para o público jovem e retratando o público jovem. Ele tem de ser visto. Escolas precisam muito descobrir esse espetáculo e levar seus alunos. É forte, bem escrito, bem interpretado, extremamente nu e cru, real de uma forma tão contundente que chega a doer na boca do estômago, como foi o meu caso. Saí bastante mexido e com a certeza de que O Alvo deveria entrar para o currículo oficial de todas as escolas do Brasil. Saí, sobretudo, com esperança. Fé na capacidade que o teatro tem de transformar pessoas.

Vejam o parágrafo importantíssimo que está no release de imprensa: “O espetáculo foi concebido especialmente para servir de ferramenta à discussão sobre bullying, dentro das instituições de ensino. Amparado por uma intensa pesquisa sobre o tema, o enredo da peça parte do ponto de vista do agressor e não do agredido, trabalhando aspectos até então poucos articulados: a vitimização, as relações de poder entre os pares e a estrutura social dentro da escola.”

Esse tal de “ponto de vista do agressor” é incômodo a mais não poder. As atrizes dão um banho de garra e talento. São elas: Andressa Andreato, Julia Freire, Luiza Porto, Natalia Viviani, Kuka Annunciato e Caroline Duarte. Merecem prêmio de melhor elenco, com certeza! Chega a ser incrível como o autor Pedro Garrafa, homem, retratou tão acuradamente o universo “de meninas”. Merece muitos aplausos. As falas são certeiras, perfeitas, duras, agudas, objetivas. Retratam muito bem o mundinho das adolescentes de “colégio rico”, com suas picuinhas, crueldades, inconsequências, rivalidades, alienações… “Blog é coisa de velho! Facebook já era!”, elas proclamam de celular à mão e do alto de seus vazios anos teen.

A estrutura de flashbacks é bem construída, nunca chega a cansar. É divertido quando as adolescentes interpretam elas mesmas aos 7 anos de idade. E há o trecho final em que elas fazem os papeis de seus próprios pais – e com que talento conseguem! E com que talento Pedro Garrafa escreveu também as falas incríveis desses pais, entre chocados e defensivos!

O enredo é o seguinte: “Amanda, Maria Anna, Rebecca e Nina são amigas inseparáveis desde o ensino fundamental. Agora, estão na sala de espera da diretoria do colégio. A amizade dessas quatro garotas está ameaçada, tudo por causa de um estranho encontro delas com a Maria Claudia, a ‘menina mais zoada do colégio’. Esse encontro gerou uma pequena briga que tomou proporções graves, quando a menina rolou as escadas e acabou em um hospital, bastante machucada. Quem é culpado? Quem será punido? Expulsão da escola?”

Corram que a temporada não será muito longa – e, com certeza, deveria se estender por muito tempo. O teatro para adolescentes ganha uma pérola, que veio para ficar, de nome O Alvo.

Serviço

Teatro Livraria da Vila do Shopping JK Iguatemi
Av. Juscelino Kubitschek, 2.041
Telefone: (11) 3152-6800
Sábados às 17h30
R$ 40,00 (inteira)

Só até 4 de julho, mas com a possibilidade de estender a temporada (fique de olho nas programações)