A banda de garagem: vocalista descobre ter doença incurável e todos têm de aprender a lidar com isso

Crítica publicada no O Estado de São Paulo – Caderno 2
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 18.06.2004

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Juventude em Conflito

Nellie Goodbye, que sai de cartaz neste fim de semana, mostra como um grupo de jovens reage diante da morte.

Sai de cartaz neste fim de semana um ótimo espetáculo para público jovem, Nellie Goodbye, montagem da Cia. Paidéia de Teatro. Vale a pena tentar se agendar. Não que seja uma grande produção. Ao contrário. Mas a força do texto é rara, o principal atrativo da peça. Escrito pelo dramaturgo alemão Lutz Hübner, de quem a companhia já montou antes Coração de Boxeador, o espetáculo narra o cotidiano de uma banda de garagem, formada por cinco jovens músicos interessados em vencer um festival para iniciantes.

O texto de Hübner, por meio da competente tradução de Aglaia Pusch, é extremamente feliz no relato do universo jovem. Os personagens têm falas sensíveis, bem escritas. Os temores, as inseguranças, a euforia, as discussões, a montanha-russa de sentimentos que habita o mundo em ebulição da juventude – tudo isso está lá no palco de Nellie Goodbye. O conflito se estabelece quando a vocalista Nellie descobre ter uma doença incurável, situação que obriga o grupo a repensar suas metas, mas, o que é o principal, obriga cada um de seus integrantes a repensar sua vida individualmente, tomar decisões, assumir atitudes que, antes da doença de Nellie, pareciam fazer parte só do mundo dos adultos.

Todos são obrigados a amadurecer de uma hora para outra e aí o desfile que o autor faz das possibilidades de reações é instigante e acurado. Há o galãzinho que, por medo, foge do assunto da morte e jamais vai visitar Nellie no hospital. Há a amiga solidária, mas que acaba se apaixonando pelo namorado de Nellie. Há o garotão desencanado e desbocado, que, ao final, apesar dessa fachada de irreverência, se revela maduro e seguro. Há a mocinha organizada, ordeira, que sofre por ter de realizar sozinha as tarefas mais chatas. E há o conflito da substituição de Nellie nos vocais da banda, decisão que todos se ressentem em tomar e que levará o grupo a pensar em se auto-implodir.

Tudo isso é muito bem apresentado pelo autor e pontuado pelas apresentações ao vivo da banda,  fazendo os atores cantar e dançar como se estivessem nos ensaios – um atrativo decisivo para manter o interesse do público de adolescentes.

Trata-se, portanto, de um raro exemplo de bom texto para teatro feito para atingir em cheio a boca do estômago de adolescentes, mas sem dramalhões ou pieguismos. A direção de Amauri Falseti respeita esse texto e imprime um ritmo adequado ao drama de Nellie e sua banda. O elenco se esforça e segura o tranco, mas é irregular e, às vezes, tão amador quanto a banda que representa. Algumas falas são ditas com pouca veemência, outras sem nenhuma densidade. No balanço geral, é um grande texto nas mãos de um grupo que fez a escolha certíssima, mas ainda precisa crescer.

Serviço:

Nellie Goodbye

De Lutz Hübner. Direção: Amauri Falseti.
90 minutos – 12 anos
Teatro da Biblioteca Municipal Presidente Kennedy (150 lugares)
Avenida João Dias, 822, Santo Amaro. 5522-1283
Sexta, 20 horas.

Espaço Cuca, Rua Anhangüera, 484, Barra Funda
Sábado, 20h, Grátis. Até Amanhã