Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 24.10.1976

Barra

Auê, Auê, seja bem-vindo

Com entrada franca, Não tá Aqui… Não tá Lá… Onde é que Está?, marca a entrada do Grupo Auê no panorama do teatro infantil carioca. E isso é bom por que se percebe com facilidade que os auês chegaram com firmeza, sabendo bem o que desejam e preocupados em transar a plateia infantil pelo lado do estímulo à criatividade (“É nosso intuito fazer com que as crianças levem para casa algo mais que uma diversão momentânea, incentivando-as a continuar a grande brincadeira que é criar”). E que isso não seja confundido com (maus) conselhos de bom-mocismo – característica de várias peças em cartaz.

O texto, criação coletiva, é um estímulo para que as crianças sintam, descubram, amem, imaginem e criem. A peça procura levar a plateia infantil a se abrir para o mundo através da procura de uma casa “com um rio dentro da sala de jantar e uma montanha entrando pela janela, com cabides com muitos braços para pendurar os sonhos e um espelho onde olho e vejo que tem eu”.

Os figurinos de Eleonora Drummond são bonitos, bem coloridos e alegres, criando um bom conjunto visual com os elementos de cena. Entretanto, a ideia do cenário preto (fechamento) pesa demasiadamente no palco. E a solução final de “abrir” não consegue compensar as paredes negras. Com exceção de Mauri Aklander (que não consegue solucionar a dificuldade de um adulto interpretando um menino e acaba caindo na armadilha de compor uma criança meio bobalhona) e de Isabel Fontenelle (uma “naturalidade” um tanto forçada: o trabalho é certinho, mas falta “verdade”), os demais integrantes do elenco – Fausta Boscacci, Fernanda Vianna e Vânia Barreto – funcionam com muita expressividade e com uma fácil comunicação. O destaque fica para Fernanda Vianna (Nuvem), atriz solta, engraçada e que demonstra absoluta consciência do que está fazendo ou falando.

A direção de Michel Robin tem o mérito de organizar bem o texto criado coletivamente e de achar boas soluções para dar o recado. A encenação, nos primeiros dias, tinha um ritmo ainda capenga e os atores (o espetáculo caíca junto, é claro) se perderam totalmente quando as crianças subiram no palco. Agora, esses dois problemas já deverão estar sanados.

Não tá Aqui… Não tá Lá… Onde é que Está? é um bom espetáculo e que merece ser visitado.