Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Luiz Sorel – Rio de Janeiro – 12.02.1985
Uma luz na Neblina
Já Morangos e Lunetas é uma agradável surpresa. A peça é leve e despretensiosa, o que acaba sendo sua melhor qualidade. Outro excelente achado é o da direção: uma direção cinematográfica, que dinamiza a ação, criando climas e mantendo a atenção do espectador ligada ao que se passa em cena. Ao contar a história da estrela Tiná e suas experiências na terra, o diretor. Usando cortes precisos, cria belos momentos, como a chegada na terra, na cidade e seus edifícios, na priaa samba de breque, no belo e langoroso tango, no engraçadíssimo número de plateia e na eficiente volta ao planeta montada numa bicicleta, construindo um espetáculo moderno, dinâmico e envolvente, só pecando quando tenta passar uma mensagem política como no óbvio e equivocado quadro do militar no bar.
O elenco está bem entrosado, mas Fernando Neder e Solange Badim transformam seus diversos personagens com exatidão e clareza. Aliás, o tom interpretativo de todo o elenco, fugindo aos métodos comuns para esse tipo de espetáculo, é outro ponto e, por ironia, é muito mais circense do que a de O Circo. Mas o resultado não seria tão bom se a direção não houvesse contado com a ajuda de Maneco Quinderé, que transforma sua inspirada iluminação no ponto alto da peça. Ele usa de todos os recursos, inclusive as sombras, para surpreender o público e elevar o nível visual e dramático da peça e, graças a ele, ao diretor Beto Crispun e ao cenógrafo Gil Hagenauer, Morangos e Lunetas, conformando a letra de uma das músicas, brilha na neblina de uma temporada infantil, até agora desestimulando e duvidosa.