Lisanne(E), Gilberto Miranda, Jorge Teixeira, Claudia, Alan Pontes e Talita Maúde: sob a direção de Márcio Trigo, no Villa-Lobos.
Foto de Guga Melgar


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 08.11.1998

 

Barra

Terceira idade, com simpatia 

No finalzinho dos anos 80, uma espertíssima turma – Márcio Trigo, Leão Leibovicht, Charles Myara, Mirian Ficher, entre outros- produziam no rádio um programa para crianças: Ta na Hora de Dormir. O repertório era dos melhores: Grimm, Andersen, Molière e Shakespeare, todos adaptados para a nova linguagem por Márcio trigo, que acabou se revelando um excelente contador de histórias. Com a era Collor, sumiram os patrocinadores e a turma teve que abandonar o projeto. Trigo, já com diversos livros infantis editados, se volta para o teatro. Sua segunda incursão no palco é a peça Molecagens do Vovô, em temporada no Teatro Villa-Lobos, um sucesso do Ta na Hora de Dormir que chega à cena em montagem super caprichada. Mas como nem tudo é perfeito nessa vida, fica no ar uma saudade da cena imaginada. E nisso o programa era imbatível.

O texto de Márcio Trigo, cheio de atalhos cômicos e ótimo em livro e em rádio teatro, não em do autor direção muito firme para levar a história no palco. A trama bem encadeada focaliza uma família classe média com situações muito próximas da plateia: mulher e marido que trabalham demais, filha adolescente que não larga o telefone e empregada que comanda o espetáculo no lar. Por lá dois personagens se divertem mais que os outros, Vovô com ideias mirabolantes a serem executadas e seu netinho que encontra nele um companheiro para suas farras.

Ao final, todos se rendem às maluquices da terceira idade. Mesmo contando com um bom elenco, onde se destacam Lisanne Paulo, no papel da mãe, Talita Maúde Horta, a filha mais velha, e Alan Pontes o netinho do vovô, Trigo se descuida do desenho cênico deixando às vezes os atores formados quase como uma fila a passar seu texto. Uma volta às marcações de palco seria bem-vinda.

Passado o entrave, a plateia se encanta com a produção que está em cena. Os cenários de Fernando Schmidt mostram uma colorida casa de família em planos bem executados, com cozinha, sala e quartos e até um deck na cobertura. A estética lembra dos desenhos animados. Bonecos manipulados adereçam algumas cenas e até uma lua desce do urdimento para um dos números musicais. Os figurinos de Adriana Leite e Roberto Cavalcante, na mesma linha, destaca a cor e mistura muito bem as estamparias para vestir esse alegre família. As perucas femininas são superdimensionadas e muito engraçadas. As do elenco masculino poderiam seguir a mesma modelo. A trilha musical de Newton Cardoso se encaixa na ação, mas está prejudicada pela sonorização e às vezes não se ouve muito bem o que é cantado.

Molecagens do Vovô é uma comédia de costumes dedicada á plateia infantil que certamente aprecia esse gênero de teatro muito próximo do que está acontecendo em sua própria casa. O toque de absurdo e de fantasia faz parte da própria história do teatro. Está nas mãos do diretor promover esse diálogo com seu público e fazer o espetáculo decolar de vez.

Cotação: 2 estrelas (Bom)