Na peça, a história do garoto criado na selva

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 25.07.1992

 

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Mistérios da Índia no palco

Ao contrário do que afirmava Noel Rosa em sua música, pelo menos neste caso o grande culpado não é “o cinema falado”, mas o cinema animado. Mesmo que se saiba que Mogli, o Menino Lobo se originou no Livro da Selva, de Rudyard Kipling, o grande público sempre o identifica através da superprodução dos estúdios Disney que tem o mesmo nome. Assim, a lembrança que nos volta é sempre a das imagens criadas pelo estúdio cinematográfico, em que o gorducho urso Balu, acompanhado da pantera Baguera, cria na selva o filhote de homem, ensinando a ele através da música, a usar somente o necessário, pois o extraordinário é demais.

A peça Mogli, o Menino Lobo, com adaptação e direção de Francis Mayer, em cartaz no teatro do SESC da Tijuca, é uma versão bastante fiel do original de Kipling, com toda a fixação nos mistérios da Índia que poderia ter um poeta inglês nascido por descuido em Bombaim.

Francis deixou a cargo da cenografia e dos figurinos de Rosa Magalhães a caracterização dos personagens, que se apresentam em cena não como convencionais bichinhos de cara pintada, mas como verdadeiras feras, mesmo que essa caracterização seja alegórica e inspirada em trajes bastante típicos da cultura indiana.

Nessa selva cheia de perigos Mogli (Evandro Martins) vive cercado não por fofinhos animais, mas por um austero Balu (Jorge Guirrera), que lhe impõe uma disciplina digna das governantas alemãs, atenuada somente pela doçura de Baguera (Vânia de Paula), que entremeia a ação com números musicais muito bem executados. Com o temível tigre Shere Khan (Bruno Garcia), porém, está a parte mais cômica do espetáculo. Garcia compõe seu vilão com a falsa simpatia dos poderosos políticos, roubando para si os melhores momentos da peça.

Mogli, o Menino Lobo, é um interessante musical, onde a direção poderia apenas distribuir melhor os cantos e danças, excessivamente concentrados na primeira parte do espetáculo. É preciso cuidar também para que a iluminação não deixe os atores tantas vezes na penumbra, dificultando sua identificação pela plateia. Um acerto de pequenos detalhes. É ver e conferir.

Cotação: 2 estrelas ( bom )