Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 22.06.2003
O Menino Maluquinho: Versão de Felipe Camargo no Teatro Vannucci é uma coleção de esquetes
Livro não faz boa viagem até o palco
Quem nunca leu “O Menino Maluquinho”, de Ziraldo, certamente não tem noção de como é difícil fazer a transposição da história para o palco.
No livro,o autor conta, através de desenhos e versos, as aventuras de um menino muito esperto e criativo. E mostra como, cercado de amor, ele torna-se um adulto feliz. A versão teatral do livro, em cartaz no Teatro Vannucci, adaptada e dirigida por Felipe Camargo, procura traduzir a magia da obra de Ziraldo, mas enfrenta alguns obstáculos.
O primeiro deles é a própria estrutura do livro, que apresenta um personagem central, envolvido em diferentes situações. Toda fragmentada, a obra de Ziraldo se presta a uma colagem de cenas e não a uma história tradicional.
O melhor são os números musicais
E foi esse o caminho seguido pelo diretor. Ele recriou algumas passagens vividas pelo personagem e criou outras tantas. Só que, inevitavelmente, os quadros ficaram soltos no espetáculo, como se fossem pequenos esquetes.
Para amarrar o espetáculo, Felipe Camargo introduziu a figura de um narrador, o que funciona em alguns momentos e, em outros, atrapalha. Como, por exemplo, na hora em que ele joga uma bola enorme para as crianças da plateia. A cena é muito longa, interrompendo a peça e desviando a atenção da história que está sendo contada. Sendo assim, poderia ser cortada.
A utlização dos bonecos na peça também funciona em alguns momentos, como na cena do jogo de futebol entre Maluquinho e seus amigos. Já no quadro da escola, o recurso não dá certo, porque a voz da atriz fica abafada pelo cenário e o público não consegue ouvir o que ela diz. Talvez nesse momento, uma atriz no palco fosse a melhor solução.
No elenco da peça, destaca-se Jorge Neves, compondo um Menino Maluquinho que tem empatia com as crianças. Cadú Favero, como narrador, também está bem, mas às vezes é sufocado pelo excesso de texto (algumas de suas falas poderiam ser enxugadas … ). Marília Medina e Cícero Raul, como pais do menino, não sobressaem em seus personagens.
O colorido cenário de Afonso Tostes é bonito e apropriado para o palco do Vannucci e o figurino de Biza Vianna, bem cuidado. Mas o destaque na ficha técnica vai para a música composta especialmente por Caique Botkay, com letras de Felipe Camargo.
Os números musicais são tão bons e jogam o espetáculo tão para cima, que levam a pensar por que, diante das dificuldades com a adaptação, o diretor não transformou “O Menino Maluquinho” num musical – que poderia funcionar muito bem, com um texto menos elaborado. Quem sabe numa próxima empreitada?