Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 13.06.2014

Barra

Para lembrar do boi em mês de bola

Durante a Copa do Mundo, o SESC Belenzinho programa duas peças sobre bumba meu boi, para marcar junho como tempo de quermesses e festas regionais brasileiras

Tudo bem que este ano tem Copa do Mundo, mas junho é o mês das quermesses e, no Nordeste, é a vez do bumba meu boi, festa regionalista em tributo aos santos de Junho, como São João e Santo Antonio. Para não deixar que isso passe em branco em meio a tanto futebol e, assim, apresentar o ritual do boi para as novas gerações, está apropriadamente em cartaz no Sesc Belenzinho o espetáculo Menino Deus Dioniso. Não se espante com o título. A cia. O Grito, responsável pela montagem, quis estabelecer uma relação entre Grécia e Nordeste, mas talvez só eles entendam essa intenção. Vá ver pelo boi, não por Dioniso, senão você, como eu, sairá de lá frustrado com a inconsistência da proposta.

A companhia dirigida por Roberto Morettho fez recente passagem por Atenas em que interagiu com grupos de teatro locais e tomou contato direto com estudos sobre o mito do nascimento e da infância do deus Dioniso. Acabaram por estabelecer essa aproximação com o destino de morte e renascimento contado nas festas de bumba meu boi do interior do Maranhão.  Aspectos como movimentos corporais e sonoridade foram vivenciados e traduzidos para a peça, mas, como espectador, senti que vale mais a pena usufruir da fábula sem se preocupar em entender essa relação com o mito grego, que não fica nada clara e, pelo jeito, foi algo rico para o processo, não tanto para o resultado no palco.

O que valeu também, no meu caso de crítico especializado, foi mais uma vez constatar o quanto Morettho continua um grande diretor de atores. Seus elencos são sempre muito bons – e isso é coisa dele, com certeza. Marujo, o Caramujo, e a Minhoca Tapioca, A Terra Onde Nunca se Morre, Armário Mágico, 1001 Fantasmas, Filhote de Cruz Credo… Sempre admirei esses espetáculos da cia. O Grito pela ousadia temática e pela justeza dos elencos. Aqui, não é diferente. Gosto muito das interpretações de Caio Merseguel, Maggie Abreu, Manuela Amaral e Wilson Saraiva e do jogo que o diretor faz com eles, alternando-os nos mesmos personagens. Também valem menção a cenografia, os figurinos e os adereços, assinados por Telumi Helen, que reciclou elementos das montagens anteriores, segundo me contou o diretor, e ainda assim conseguiu dar um ar de frescor e riqueza visual à nova atração. No mais, prestem atenção também na trilha original de toadas do bumba meu boi, criadas por um craque do gênero, reconhecido no Brasil inteiro: Tião Carvalho.

Curiosidade: está em cartaz também no SESC Belenzinho outra peça sobre bumba meu boi: Folia de Boi, do Núcleo Trecos e Cacarecos, da contadora de histórias Kelly Orasi. Você pode fazer programa duplo e comparar as duas visões sobre a mesma manifestação regionalista brasileira.  Ainda não vi esse segundo, por isso fico devendo meus comentários.

Serviço

Menino Deus Dioniso

Sesc Belenzinho – teatro
Rua Padre Adelino, 1.000, Quarta Parada
Tel. 2076-9700
Sábados e domingos ao meio-dia (12h)
Até o dia 22
Ingressos a R$ 10 (inteira)

Folia de Boi, do Núcleo Trecos e Cacarecos.

Na sala de espetáculos 3, no horário das 16h30