Ana Luísa Lacombe e Elaine Sarino

 

 

 

 

 

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As Meninas. Agora no Teatro.

Adaptação de As Meninas, de Lygia Fagundes Telles. O original é sempre melhor.

Privilegiando tendência que se tem afirmado nos últimos anos, está em cartaz no Assobradado TBC uma adaptação de As Meninas, romance de Lygia Fagundes Telles. A partir da bem sucedida adaptação de Macunaíma, em 78, a literatura vem servindo constantemente de inspiração ao palco. Mas poucas vezes a invenção teatral se equipara à invenção literária, como ocorreu com Antunes Filho em relação ao romance de Mário de Andrade. Por diversas razões, vimos falharem, nas últimas temporadas, versões de Machado de Assis (Dom Casmurro e Quincas Borba) e Nelson Rodrigues (Asfalto Selvagem). A adaptação de Adélia Maria Nicolete para As Meninas tampouco consegue encontrar modo eficiente de reduzir para teatro o grande romance de escritora paulista.

O texto original, publicado em 1973, situa a ação em fins dos anos 60 e sintetiza em três personagens, moradoras de um, pensionato de freiras, todo um tecido social. Há a aristocrática Lorena Vaz Leme, virgem, problemática; Lia de Melo Schultz, baiana, marxista, namorada de um terrorista exilado; Ana Clara Conceição, belíssima modelo, filha de proletários, drogada, em acelerado processo de autodestruição. Ao transpor o ambiente dos anos 60 para os anos 80, a adaptação perdeu em boa parte a dimensão do original. Uma marxista forçada a sair do país em 69 e uma ecologista desiludida que se auto exila em 88 não têm a mesma força, decerto.

Do ponto de vista da estrutura dramatúrgica, o trabalho de Adélia Nicolete está bem elaborado. Mas a infeliz atualização ao minar o impacto de seu significado invalida a hábil carpintaria. O diretor Paulo Moraes tampouco encontrou o tom exato da narrativa. O belo cenário de William Pereira  não parece encaixar-se com precisão no conjunto. Os figurinos da sempre talentosa Edith Siqueira são surpreendentemente feios, pouco teatrais.  Muito instigante é a trilha sonora de José Carlos Prandini. A montagem, no entanto, resulta capenga, irregular no ritmo, cuja lentidão chega em certos momentos a exasperar. No elenco Ana Luísa Lacombe supera todas as dificuldades e imprime luz própria em Lorena. Mayara Norbim é também uma presença forte em cena e procede à leitura intensa da Conturbada Ana Clara. Os demais integrantes do elenco não atingem rendimento igualmente satisfatório. As Meninas é uma produção séria, mas o resultado artístico não corresponde ao esforço despendido.

Serviço:
As Meninas – De Lygia Fagundes Telles. Adaptação: Adélia M. Nicolete. Direção de Paulo Moraes. Elenco: Ana Luísa Lacombe, Mayara Norbim, Elaine Sarino, Clarita Sampaio, Eduardo Gaspar. Assobradado TBC (R. Major Diogo, 315. Tel: 34-5523). Hor.: 4ª à 6ª, 21h; sáb., 20h e 22h30; dom., 20h. Ingressos: Cz$ 1.500,00 (4ª, 5ª e dom.) Cz$ 2.000,00 (6ª e sáb.).