Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 1979

Barra

Uma festa pernambucana

A simpatia do nome da peça reflete plenamente na simpatia da encenação. A Menina que Perdeu o Gato, enquanto Dançava  Frevo na Terça-feira de Carnaval, de Marcos Apolinário Santana (autor) e de Demétrio Nicolau (diretor), em cartaz no Planetário da Gávea, é um espetáculo atraente e que, com muita simplicidade, envolve a plateia infantil, tornando-a muito relaxada e feliz.

O texto, vencedor de um dos concursos de dramaturgia do Estado do Paraná, explora com eficácia uma situação cômica: numa terça-feira de carnaval uma menina quer ir para as ruas dançar o frevo, mas se defronta com um problema: todos os seus parentes já foram para o carnaval e ela ficou em casa para cuidar do gato. Ela quer ir pular, mas tem que ficar por causa do gato. Seu namorado a convence de ir para o frevo levando o animal. A partir daí estabelece-se uma série de quiproquós com o desaparecimento do gato e que culmina com a confusão final. É um texto cujo humor está nas situações e, se o elenco consegue sustentar a comicidade (como é o caso desta montagem), as crianças se deixam levar pela história e pelas características dos personagens que se envolvem com o gato.

O que parece ter dado ao texto uma dimensão maior foi a decisão do diretor Demétrio Nicolau de fazer o espetáculo para atores e bonecos, mas fundamentalmente, em cima dos atores. O texto,  originalmente escrito para bonecos, me deu a impressão de crescer em comunicação quando seus personagens começaram a surgir em carne e osso. Ao mesmo tempo, mantendo um duplo com um boneco (cada personagem tinha, a representa-lo, um boneco e um ator), o diretor conseguiu explorar, também, a indiscutível força simbólica e lúdica dos bonecos junto às crianças. A criançada recebe muito bem, inclusive, o intervalo com atores e bonecos descendo à plateia para conversar descontraidamente sobre o que está acontecendo.

Descontração, aliás, me parece a palavra chave na avaliação deste espetáculo. Desde o início reina um clima solto, alegre, colorido. As possibilidades oferecidas pelo texto no que se refere a “carnaval”, “Olinda” e “frevo”, são amplamente exploradas. Há um tom colorido, há uma música que mexe com o público, há serpentinas voando e mobilizando também uma ação carnavalesca da plateia infantil. É muito boa a concepção e a realização dos cenários., correndo em fios suspensos lateralmente. Enfim, a plateia infantil tem, no Planetário (Rua Padre Leonel França, 240, na Gávea), um espetáculo leve, gostoso, musical, atraente, criado por um elenco bem comunicativo e que mantêm vivo, durante todo o tempo, o tom de brincadeira e festa, onde misturam-se bonecos, atores, o frevo e a criançada.