Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 09.11.1975

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A Menina das Nuvens

A Menina das Nuvens é um espetáculo colorido, bem auxiliado por um cenário (de Luiz Carlos Figueiredo) que é responsável pela criação de um clima agradável e estranho; é uma encenação que conta com a valiosa colaboração de figurinos alegres e expressivos; e que tem uma direção que se caracteriza pela preocupação de um constante bom acabamento. E, apesar de todos esses elementos positivos, a montagem não se realiza integralmente. A falha, desta vez, não pode ser atribuída a pouca idade dos atores – como aconteceu nas peças, Desculpe, Foi Engano e O Patinho Feio, montadas este ano pela mesma Maria Luiza Prates com alunos da escola Integrada Isa Prates. Onde, a falha, então? O texto de Lúcia Benedetti é bastante singelo, tem personagens atraentes, mas carece de ação dramática. Apesar do apelo estimulante de personagens como Tempo, Vento variável, Corisco, etc., a peça se desenvolve muito lentamente. E isso se reflete de modo definitivo no espetáculo, apesar dos cortes realizados no texto pela diretora.

A partir da entrada dos soldados, o espetáculo, que corria vagarosamente, com uma movimentação muito dura e repetitiva, toma uma outra dinâmica, com marcas inventivas, com mais humor, mais vida. O próprio texto fica mais desenvolto a partir daí. Porém em toda a primeira parte da montagem, existe uma preocupação visual, há bom acabamento, mas paira sempre, no ar, uma ameaça de monotonia.

O elenco, formado por garotos cuja média de idade é de doze anos, atua com muita segurança e a inexperiência (de palco e de vida) não chega a comprometer. O trabalho firme dos atores é um dos pontos a serem creditados à direção de Maria Luíza Prates. Pena que esta seja mais uma montagem que insiste no uso do playback – recurso que geralmente quebra a comunicação entre palco e plateia.

A Escola integrada Isa Prates está de parabéns pela atuação viva dentro do campo do teatro, abrindo seu espaço para a realização (com evidente preocupação artesanal) de uma atividade extracurricular que só pode enriquecer seus alunos. Uma pequena sugestão: porém, melhorem a visibilidade da plateia.

A Escola Integrada Isa Prates (Colégio Pernalonga) vem realizando um trabalho cada vez mais dinâmico no que se refere a Teatro na escola. Sob a direção de Maria Luíza Prates, foram organizados quantos grupos teatrais que já montarem este ano, em sessões abertas para o público, os seguintes espetáculos: Desculpa Foi Engano, de Lucile Fletcher; O Patinho Feio de MilneMaroquinhas Fru-Fru de Maria Clara Machado; e o atual A Menina das Nuvens, de Lucia Benedetti – em cartaz até o dia 16, apenas. O grupo denominado Tape 2, responsável por este último espetáculo, revela os planos para o final deste ano e para 1976:

“Todos os grupos de teatro da escola estarão participando, em 1976, de uma mostra do atual teatro infantil-norte-americano, inovador e de alto nível. A nossa equipe caberá uma colorida e movimentada adaptação de “The Marvelous Adventures of Tyl”. O Tisa (grupo responsável por Desculpe, foi Engano) conseguiu um texto maravilhoso, uma experiência realista para crianças/adolescentes, surpresa para maio. O Teatro Isa Prates vai encerrar seu ano de atividades com musical Terra, chegou visita, apresentado pelo Tisa e por todas as alunas dos cursos de balé moderno e sapateado da escola, em cinco dias apenas (de 2 a 6 de dezembro) – o elenco é muito grande (cerca de 200 participantes).

Estreou ontem, no Teatro Opinião, a peça Depois da Hora, de Eduardo Meireles. Esta montagem chama atenção pela presença de dois profissionais altamente conceituados e de atuação, até agora, restrita ao teatro para adultos: Klaus Viana (orientação corporal) e Luís Carlos Ripper (cenografia). A direção é uma criação coletiva, e o elenco é formado por Rainer Vianna, Adriana de Figueiredo e Eduardo Meireles. A peça ficará em cartaz apenas durante o mês de novembro.

A peça O Jardim que a Felicidade não Encontrava, de Suely Poggio, só está sendo levada aos sábados, no teatro Teresa Raquel, Luís Sorel, diretor e ator da peça, fala sobre seu trabalho de montagem: “Tentei manter, um equilíbrio entre a plasticidade e as intenções do texto, não deixando nenhum passar por cima do outro. As músicas cedidas por Nelsinho Motta contribuíram para muito que o meu trabalho crescesse dia a dia”.

Recomendações:
Estória da Moça Preguiçosa, último dia no MAM; Bingo, no Miguel Lemos; A Margarida Curiosa Visita a Floresta Negra, no Casa Grande; Zé Vagão da Roda Fina e sua Mãe Leopoldina, no SENAC