Musical: Mas por quê??! – A História de Elvis

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 07.08.2015

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Elvis morreu, sim: como resolver essa tristeza?

Musical infantil fala com sensibilidade de uma menina que perdeu o seu canário e não sabe lidar com o sentido da perda

Um delicioso musical, vindo do Rio de Janeiro, tem encantado já há algum tempo as plateias do novo Teatro Porto Seguro, em São Paulo. Não há quem não saia tocado do espetáculo, pela sensibilidade, pelo bom gosto, pela delicadeza em falar de temas como a morte, a perda, a saudade, as lembranças. Não só as crianças vibram, como os adultos também se emocionam com Mas por quê??! – A História de Elvis.

Com direção de Renato Linhares e texto de Rafael Gomes e Vinicius Calderoni, um trio de craques que brilha e se destaca a cada novo trabalho, a peça é baseada no livro infantil homônimo do escritor e ilustrador alemão Peter Schössow. (A obra foi lançada no Brasil pela Ed. Cosac Naify, em 2008).

Quem viu em 2014 outro ótimo musical infantil carioca, ‘Mania de Explicação’, com Luana Piovani, não tem como não relacionar as duas produções, de natureza, proposta e conteúdo muitíssimo semelhantes. O texto de Adriana Falcão e Luiz Estellita Lins, dirigido por Gabriel Villela, também tem uma menina protagonista que vive perguntando, perguntando, perguntando. Também tem vários personagens ligados às memórias afetivas da menina. E também tinha uma trilha inusitada para um infantil. Se em ‘Mania…’, o som era de Raul Seixas, aqui em ‘Mas por quê?’ os diretores escolheram os maiores sucessos de Elvis Presley – e o elenco canta em inglês mesmo, sem fazer versões, o que é bem corajoso.

Idealizada por Felipe Lima e Pablo Sanábio, a peça adaptada conta a história de Cecília (Letícia Colin), uma menina que está inconformada com a morte de Elvis, o seu canário belga. Ao procurar respostas para seus questionamentos de garota, a heroína aprenderá a superar a dor da perda em uma viagem que, mais tarde, o público saberá que foi pelos meandros de seu próprio inconsciente. Incrível retratar plasticamente o “inconsciente” em uma peça para crianças. A cenografia de Bia Junqueira, toda de papelão e plásticos, representa lindamente um espaço abstrato que tanto pode ser um parque de diversões quanto a cabeça da protagonista, que, aliás, é muito bem interpretada por Letícia Colin, uma atriz perfeita para papéis de meninas sapecas, sonhadoras, perguntadeiras…

Letícia Colin, Júlia Gorman, Marcel Octavio, Pedro Lima e Simone Mazzer tocam e cantam oito clássicos de Elvis Presley: Tutti frutti, A little less conversation, Hound dog, Blue suede shoes, Can’t help falling in Love, Always on my mind, Bridge over troubled water e Love me tender. Utilizam, ao vivo, o que é muito louvável, instrumentos variados, como piano, acordeão, saxofone, violão, guitarra, baixo, bateria e até castanholas. Quem assina a direção musical é Felipe Habib.

Um pouco sobre cada personagem coadjuvante, de acordo com o excelente release de imprensa, feito pela jornalista Paula Catunda: Gilda (Júlia Gorman), avó da menina, uma figura saída de um porta-retratos antigo e que não tem memória. Sebastião (Marcel Octavio), um vilão de filme de pirata que sonha em ser engraçado. Max (Pedro Lima), um urso de pelúcia gigante que foi esquecido no caminhão de mudança. Lili (Simone Mazzer), amiga imaginária que está sempre presente, mas um dia ficou invisível até mesmo para a própria Cecília. Esses quatros amigos tão diferentes entre si vão ajudar a menina a lidar com a perda e a saudade. Figurinos de Luciana Buarque completam o quadro de excelência dessa produção. Corra para não perder. Está nas últimas duas semanas. É bom teatro a serviço de um tema que ainda é considerado tabu para crianças: a tristeza causada pelas perdas.

Serviço

Teatro Porto Seguro
Al. Barão de Piracicaba, 740, Campos Elísios, São Paulo

Tel. (11) 3226-7310
Sábados e domingos, às 15h

Ingressos a R$70,00 (Plateia) e R$50 (Balcão/Frisas)
Até 16 de agosto