Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 02.05.1975

Barra

Maroquinhas Fru-Fru

Maroquinhas Fru-Fru, de Maria Clara Machado, recém-estreado no Teatro Opinião, numa montagem do grupo Ex-Pressão, é um espetáculo que pode ser dividido em duas partes bem distintas: a primeira, dura, rigidamente marcada, carente de imaginação, descosida o com um ritmo capenga, termina na hora da serenata; e a segunda parte, da serenata em diante, se caracteriza pela leveza, soltura, liberdade criadora, um desenvolvimento crescente, um ritmo adequado. Parece incrível que esses dois instantes, tão contraditórios, tenham sido criados pelo mesmo grupo de pessoas. Mas as excelentes qualidades da segunda parte, onde existe um tom vivo entre o alegre e o ironicamente debochado, já conseguem ser detectadas timidamente na parte inicial. Mas é exatamente por isso que este é um período pobre: como as chaves cênicas não são levadas às últimas consequências, elas se esmaecem, perdem em força expressiva e, principalmente, nunca se definem.

O diretor Wolf Maia, visivelmente um adepto do Casamento do Pequeno Burgês e do Asdrúbal Toca o Trombone, trabalha mais criativamente quando sua matéria prima é a cena musical. As coreografias são expressivas, carregam uma boa dose de humor e contam com um elenco que se movimenta sem hesitações. A serenata, as danças das Flores e dos juízes, o apareceu a margarida e o pega ladrão são momentos que merecem ser citados. O elenco tímido e quase apático, na primeira parte, transforma-se num elemento dinâmico que deflagra todo o positivo caos da parte final. Os atores assumem de modo definitivo, o tom lúdico e suas ações passam a ocorrer espontânea e expressivamente. A restrição fica para a atriz que faz a Maroquinhas: seu trabalho é duro e pouco criativo durante toda a peça; ela fala baixo e com pouca articulação, fazendo com que o público perca muito do texto. O destaque maior fica com D. Bolodina, a qual, desde o início, se identifica inteiramente com o clima do espetáculo.

Os figurinos e a maquilagem são dois elementos que participam – positivamente – do processo criativo. Já o cenário não é nada feliz, funciona apenas decorativamente, e termina misturando os espaços convencionados para casa e rua. A luz, no dia da estreia, falhou em diversos momentos, o que impossibilita uma avaliação crítica: seria um erro de realização, facilmente sanável, ou a iluminação realmente deixa a desejar em termos artísticos?

Porém, toda a carga positiva do grupo Ex-Pressão talvez não tivesse tido uma boa oportunidade de explosão se não aparecesse um texto engraçado, agitado e cheio de potencialidades como Maroquinhas Fru-Fru. E foi, justamente na parte bem comportada do texto, que o diretor Wolf Maia não conseguiu achar uma chave para a montagem, pois, no trecho mais dinâmico, ele aproveita bastante bem as dicas deixadas pela peça de Maria Clara.

Maroquinhas Fru-Fru, no Teatro Opinião, se conseguir assumir em todo o espetáculo, a descontração e a criatividade da segunda parte, será mais um dos espetáculos a serem recomendados às crianças do Rio de Janeiro. Basta uma pequena mexida e a montagem poderá ficar muito boa.

Recomendações:
Com pequenas restrições: A Viagem do Barquinho, Você Tem um Caleidoscópio?, A Varinha do Faz de Conta e Criançando.