Maria Teresinha Heiman

Maria Teresinha Heimann (*) conversa com Cleiton Echeveste (**) sobre o mais importante Festival de Teatro para Crianças: FENATIB – Festival Nacional de Teatro Infanil de Bumenau

Cleiton: Começo perguntando o que a Teresinha espectadora gosta de assistir no Teatro – em termos de distintas linguagens, gêneros, estéticas? E o que leva você ao Teatro?

Teresinha: Sou bastante eclética em relação a linguagem, gênero e estética. Gosto dos textos clássicos, mas também de linguagens novas ou diferentes, incluindo, muitas vezes, projeções de vídeos, técnicas de animação, técnicas circenses, dança, música, linguagem gestual e corporal, entre outras possibilidades, que contribuem para um novo olhar no teatro para crianças e jovens. Um espetáculo que instiga a reflexões e descobertas. As apresentações mais marcantes são aquelas de Cia.  que apresentam bons texto bem interpretado e boas soluções estéticas.

O que me move ir ao teatro não é só assistir o espetáculo. Ir ao teatro tem sentido mais amplo, vai além da narrativa de uma história ou do entretenimento, vejo como um encontro social e cultural e de participação coletiva. Com a pandemia do Covid19, a melhor coisa que pode acontecer agora é o encontro. Não existe teatro sem encontro. O teatro é celebrar a vida e a arte, também nos permite imersão, análise e conhecimento do que foi produzido e posto a apreciação. Não se trata de apenas apresentações ao público, envolve preparação técnica, união e resultados. Nele está reunido vivencias de ambas as partes, espectadores e atores, é essa junção que faz o espetáculo acontecer e move a ver teatro. Gosto de observar a reação do público.  O teatro permite essa compreensão e esse faz de conta, porque integra, constrói conhecimentos e socializa. Pode-se dizer ainda que o papel do teatro é de mobilização da capacidade criativa, de aprimoramento das relações entre seus pares com o mundo externo.

Cleiton: Desde bem antes das restrições impostas pela atual pandemia, como tem se dado a construção e a manutenção das parcerias do FENATIB com artistas, técnicos, pesquisadores, gestores e professores da área do Teatro para a Infância e Juventude: via órgãos públicos, universidades, escolas, redes? Quais têm sido os caminhos para parcerias duradouras e frutíferas?

Teresinha: O FENATIB – Festival Nacional de Teatro Infantil em Blumenau – tem como proposta estimular as artes como um todo. Para nós é uma prática cultural de educação de plateia e formação de nossas crianças e adolescentes, e configura-se como uma atividade importante desde 1997. Seu objetivo, desde então, é despertar o prazer, o gosto pelo teatro e formar espectadores. O FENATIB sempre tem mantido   bons contatos   com universidades, professores, estudantes, pesquisadores e pessoas que conhecemos através de eventos e publicações ou de indicações recebida.  Estamos sempre abertos para contatos e participações, uma vez que o FENATIB é um evento nacional. Porém não queremos perder o objetivo principal de educação de plateia.

Na cidade de Blumenau, desde o início mantemos parcerias com o governo municipal, escolas, patrocinadores, Secretarias Municipais de Educação e de Cultura, grupos de teatro da cidade, professores, entre outros, com a ideia de pôr em prática a democratização da cultura. O evento teve excelente aceitação desde sua primeira edição, e sempre foi apresentado em teatro e espaços alternativos lotados. O prefeito da época, ao ver tantas crianças assistindo teatro, ficou impressionado e disse uma frase interessante. Ver uma única criança com os olhos brilhando ao assistir um espetáculo já é orgulho para qualquer administrador, mas ver o brilho de milhares delas é melhor que admirar um céu estrelado. Percebemos, em 1997, que era um novo momento para a história cultural da cidade, e esses olhos que vimos brilhando nas primeiras edições, hoje são de empresários patrocinadores e de pais engajados que trazem seus filhos ao teatro. Só por isso já valeu apena.  Como tudo na cultura, nem sempre as coisas são fáceis, muitas vezes pela falta de recursos ou falta de pessoal. Trabalhamos duro para fazer acontecer, mas sempre conseguimos vencer.

O FENATIB nasceu dentro da antiga Fundação Cultural de Blumenau, hoje denominada Secretaria Municipal de Cultura e Relações Institucionais, quando eu ocupava o cargo de diretora, e logo em 2003 criou-se o Instituto de Artes Integradas de Blumenau, para o projeto prosseguir independente de circunstâncias político-administrativas. Desde então, é realizado e coordenado pelo Instituto de Artes Integradas de Blumenau – Inarti e está sob minha presidência. Trabalhamos em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura. A preparação do projeto começa cedo, sob a responsabilidade e coordenação do Inarti, a partir da aprovação do FENATIB nas leis de Incentivo Federal. A isto, seguem-se a captação de recursos pelo Inarti, a realização das inscrições e seleção dos espetáculos. Logo, surgem outras tarefas: Prepara-se um pré-programa do evento para ser encaminhado às escolas; que inclui reuniões, agendamento para assistir aos espetáculos com as crianças, inscrições para participação em oficinas e palestras. Também assisto aos espetáculos produzidos pelas escolas, que são incluídos na Mostra de Estudantes do FENATIB, porque umas das preocupações é trazer também o jovem ao teatro. Tínhamos sempre uma lacuna. Só as crianças entre três e doze anos é que assistiam ao FENATIB. Com a Mostra de Estudantes, estamos criando novos hábitos junto aos jovens: o de assistir e produzir seu espetáculo com o apoio técnico dos professores, que trabalham com eles os textos para os espetáculos. Estas atividades têm parceria da Secretaria de Educação. Outro ponto positivo é trabalho da Secretaria Municipal de Cultura e Relações Institucionais, que cumpre o papel de fazer contatos com as escolas e encaminhar o material do evento para os agendamentos.

Muitas parcerias também surgem de conversas paralelas durante o FENATIB, quando convidados e organização se encontram, provocando o surgimento de ideias para a próxima edição, que geralmente acabam se consolidando para a criação do tema central do Seminário de Estudos de Teatro para Crianças e Jovens seguinte, e a consequente escolha de novas oficinas a serem ministradas. É esse bate-papo durante o festival que mantém viva a fomentação das ideias e contatos entre grupos e convidados.

Hoje o evento está consolidado, agradecemos sempre a todos, além dos apoiadores e patrocinadores que automaticamente investem no projeto. Ressalto, ainda, que essas parcerias foram importantes durante a pandemia da Covid19. Mesmo não podendo realizar o evento presencial, tivemos os recursos garantidos para a edição mantendo contato com nossos patrocinadores e informando a situação do evento. Nossa maior dificuldade foram as tratativas junto à Secretaria Especial de Cultura no Ministério do Turismo, com relação ao andamento de nossas solicitações. A 23ª edição, em 2021, foi adiada três vezes, mas aconteceu graças à generosidade dos grupos e Companhias de Teatro do Brasil que caminharam conosco para que a edição pudesse acontecer no formato hibrido – online/presencial. Apresentamos 30 espetáculos, sendo 19 na mostra oficial e 11 na Mostra de Estudantes, no formato presencial, realizado em escolas, praças e shoppings. Estiveram representados nove estados brasileiros. Atingimos mais de 20.000 acessos nas transmissões online do Brasil e países de Língua Portuguesa, contabilizando cerca de 70 mil espectadores, a partir do cálculo de 3,5 espectadores por aparelho conectado. Além disto, contamos com outros 7.250 acessos através do site do Inarti, contemplando salas de aulas, anfiteatros e pátios escolares, elevando a relação de espectadores por acesso a um número bem maior do que geralmente é calculado. Isto nos leva a acreditar que pelo menos mais 100 mil pessoas tenham assistido as apresentações.

Cleiton: Ao longo dos 23 anos do FENATIB, durante os quais você tem sido sua coordenadora, fazendo a curadoria, assistindo, debatendo inúmeras apresentações artísticas, além de promover atividades formativas como oficinas e seminários com profissionais de destaque de todo o Brasil, sem contar as publicações, aliás uma marca indelével do Festival, como você vê a evolução das artes cênicas para crianças e jovens no Brasil, em termos estéticos e temáticos?

Teresinha: Bem interessante esta pergunta. Como professora, temos naturalmente a preocupação com a formação, para promover acesso aos bens culturais. Documentar de alguma forma é importante, por isso a cada edição procuramos fazer a revista registrar as participações de grupos e possibilitar futuras pesquisas, até mesmo para marcar o crescimento ou não do evento. Hoje, olhando para as primeiras edições, percebo o quanto o evento evoluiu e quantas conversas e textos foram registrados nas revistas.  Acaba sendo, ainda que frágil em alguns momentos, um documento importante, porque também revela as dificuldades não só do evento, mas também acontecimentos e atribulações pelas quais o país passou e que afetaram a cultura nesse período.  Quando iniciamos, não tínhamos noção da velocidade da evolução do teatro para crianças e jovens. Eu diria que esta evolução pertence ao coletivo do teatro brasileiro. O FENATIB, de certo modo ajudou abrir portas para muitas trocas entre grupos e participantes convidados. Fez diretores e atores trocarem experiências e, ao mesmo tempo, trouxe para o evento muitos diretores inexperientes que, mesmo não tendo seu espetáculo selecionado, foram convidados para conhecer o evento, recebendo hospedagens e alimentação, propiciando-lhes novas experiências e contatos, especialmente para os oriundos de cidades distantes do interior. Como idealizadora e coordenadora, nossa pretensão era apenas possibilitar que nossas crianças pudessem ter acesso ao teatro produzido no país e que pudessem conhecer o teatro da nossa cidade, sempre tão distante do público, por ser um local privado. Muitas vezes vi o teatro vazio em alguns espetáculos. Estava claro pra mim que muitas pessoas não tinham acesso por questões financeiras e lhes faltava também o hábito de freqüentar o teatro. O FENATIB veio com este propósito criar hábitos culturais.

Quanto à evolução das Artes Cênicas para Crianças e Jovens, digo que evoluímos muito, desde temática à estética, mas ainda vejo uma lacuna quando se trata de espetáculo para jovens. Sinto a falta de espetáculos mais ousados para atender a demanda desse público que está preso a rede sociais, jogos etc. Nas inscrições recebidas no FENATIB, têm aparecido poucos espetáculos que possam dar conta desse público. Por outro lado, dá para perceber que o teatro de hoje está mais rico e também mais misturado. Temos recebido uma grande quantidade espetáculos de teatro de bonecos, na maioria com adaptação de textos e com elencos pequenos, que acredito sejam reflexo de dificuldades financeiras e até mesmo estratégia para facilitar a locomoção pelo país. Também se multiplicaram espetáculos de teatro-dança, musicais, espetáculos de teatro de rua, espetáculos para espaços alternativos, contadores de histórias, entre outros espetáculos com propostas bastante tecnológicas. Outra curiosidade é a quantidade de novos grupos formados nos últimos anos:  muitos atores e diretores que já passaram por outros grupos, agora surgem com trabalhos-solo ou suas próprias companhias. Outra questão percebida é a quantidade de textos adaptados de criação coletivas. Um espetáculo apresentado este ano, Pequenas Porções de Tempo, com direção de Claudio Fontan, chamou muita atenção.  Com textos inspirados no livro Sonhos de Einstein, trata da evolução humana, de linhas históricas e biológicas através do contato com o desconhecido. Interessante como as crianças que assistiram ao espetáculo, apresentado em um parque da cidade, não tiveram mede de se aproximar e fazer indagações. Acredito que o fato de brincarem com monstros encontrados em lojas de brinquedos, logo as aproximou dos três personagens que se moviam como extraterrestres e que podiam transmitir informações e vivências através do mero contato visual. Suas medidas variavam de três a cinco metros de altura.

As apresentações ao longo desses anos nos trouxeram aspectos interessantes sobre a evolução dos espetáculos para crianças e jovens e, ao mesmo tempo, soluções práticas de montagens sem perder a qualidade da proposta.

Cleiton: Em que aspectos a criança de 1997, ano do 1º FENATIB, mudou em relação à criança de 2021? Poderíamos dizer que as novas tecnologias, trazidas pelo universo digital, têm engendrado uma “outra criança”?

Teresinha: Pensar a criança de ontem e de hoje, é sempre necessário; aliás, muito necessário. Mais do que tentar dizer o que são hoje as crianças brasileiras, nosso foco é sempre compreender a criança no seu contexto– saúde, nutrição, segurança, proteção e educação; ou seja, entender como essa criança vive, sua vulnerabilidade social, como se relaciona, quais os cuidados que ela recebe no seu desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial. Analisando o presente, vejo que é um dever diário refletir sobre elas e pensar no que ainda não pensamos sobre elas. Como podemos contribuir. Foi pensando sobre essas questões em nossa cidade que criamos o FENATIB. Queríamos contribuir nessa caminhada. Nesses últimos 20 anos aconteceu uma verdadeira revolução, tanto social como tecnológica. A criança foi jogada nesse vespeiro, tendo que sobreviver a inúmeras adversidades.

Reconhecendo que a criança é fortemente marcada pelo meio social em que se desenvolve, e que também deixa suas próprias marcas neste meio, onde está conectada com a sua família como o seu principal referencial, apesar de todas as relações que ocorrem em todos os níveis sociais, o espaço infantil deve priorizar e remeter a história da criança para o seu contexto e através disto promover a troca de saberes entre as crianças. Segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998, vol 1, p. 21-22):

Penso que a criança que participou do primeiro FENATIB hoje é um adulto. Pode-se afirmar que ela era bastante diferente das crianças de hoje. Tenho recordações do silêncio, do respeito, da curiosidade e dos olhinhos observando cada local, da sensação que a imensidão do teatro provocava nelas. Os próprios professores, vários deles, nunca haviam entrado num teatro. Tudo isso foi um processo crescente de formação e educação. Os que já tinham ido ao cinema, entendiam que o local era espaço em que se podia lanchar, comer doces e pipoca. Isso também era o entendimento de muitos que os acompanhavam. Muitos dos professores queriam eles mesmos entregar os convites/ingressos gratuitos a cada criança para agilizar a fila.  Tivemos que introduzir, antes dos espetáculos, informações a respeito da importância da própria criança entregar seu convite. Mesmo o evento sendo oferecido gratuitamente, até hoje fazemos o ingresso-convite, com o intuito de formação futura do espectador. Hoje, o que se percebe é que a criança está mais inquieta – eu diria até frenética –, e os pais sem paciência para lidar com elas. O celular acaba sendo sempre a solução para ambos. Ao longo desses anos acompanhamos essas mudanças, e lidamos com um público bastante eclético, entre três e doze anos, além dos pais e professores. Por exemplo, em nossa cidade temos ainda algumas escolas isoladas. Levar teatro para essas crianças ou trazê-las ao teatro, é muito gratificante. São espectadores receptivos, acolhedores e trazem grande alegria estampada nos seus rostos. Ir ao teatro é novidade. Percebe-se que vivem sem muita interferência tecnológica. Já, as de escolas mais próximas do centro são mais conectadas à tecnologia, as crianças são geralmente inquietas, refletem suas vivências. Por outro lado, é sabido que o desenvolvimento da criança depende do meio em que vive, das suas interações tanto individual quanto coletiva para construir seus conhecimentos. Ferramentas tecnológicas, quando utilizadas de forma moderada, têm influência positiva e podem oferecer benefícios, inclusive na área do ensino, da aprendizagem, mas em excesso são prejudiciais para a formação e o desenvolvimento das crianças. Eu diria que aprendemos a cada dia como fazer e não fazer e como lidar com esse público que vem surgindo, e também como selecionar espetáculos de qualidade que tragam questionamentos importantes para o mundo de hoje, ao mesmo tempo que despertem nele o gosto e o prazer pelo teatro. O teatro vem ganhando força com novas configurações e uso das tecnologias, no palco de hoje convivem os atores, as imagens virtuais e a sonoplastia produzidas pelos meios tecnológicos. Essa fusão se faz presente positivamente em vários meios, na arte, nas relações diárias, na educação. Também nós, educadores e artistas, precisamos aprender e usar da melhor forma estes recursos.

Cleiton: Em 2021, o FENATIB chegou à sua 23ª edição, com fôlego renovado ao encarar o desafio de chegar à virtualidade, mantendo a consistência, a coerência e a relevância que o consagraram como o mais tradicional e um dos mais importantes festivais nacionais de teatro para crianças do Brasil. Quais foram os principais desafios que esta edição virtual trouxe para o Festival? Quais foram os argumentos e as ferramentas que o FENATIB arregimentou para sustentar esta iniciativa?

Teresinha: Os desafios foram grandes, primeiro porque troquei três vezes a data de realização, na esperança de fazer presencial. Não conseguia aceitar a ideia de fazer o FENATIB no formato online. O segundo desafio foi o de conversar com os grupos para novas gravações dos espetáculos, depois de já selecionados.  Trazer o máximo possível de qualidade nos espetáculos a serem apresentados no online para o espectador.

Fazer os debates dos espetáculos e realizar o seminário, além de estar presencialmente quase que 24 horas por dia acompanhando todo o processo de gravações dos quiz de divulgação do evento, dos patrocinadores envolvidos, além de produzir as lives. De olho em tudo e todos para que respeitassem as normas de segurança para o Covid-19, especialmente os membros da equipe. É bom lembrar que o tempo de concentração da criança nem sempre equivale ao tempo de um adulto. Mesmo assim, muitos dos espetáculos foram assistidos inúmeras vezes pelas mesmas crianças, jovens e adultos. Revelando que o material online conseguiu atingir seu objetivo.

O teatro nunca será totalmente digital, a presença e o encontro são indispensáveis para que o rito se realize. O que estamos vivendo neste momento de pandemia pode ser uma excelente oportunidade para aprender, nos desafiar e experimentar.

Foi possível identificar no 23º FENATIB, significativas mudanças no evento, tanto por parte dos espetáculos que cresceram e mudaram esteticamente sua forma de trabalhar, trazendo temas bastantes discutidos atualmente, como inclusão e diversidade. Também o público mudou seu comportamento. Hoje é comum ver os pais participando junto com seus filhos dos espetáculos.  Antes a criança só participava através de agendamentos realizados pelas escolas. Hoje é ela quem traz seus pais ao teatro. O evento também oportunizou a presença de espetáculos com temáticas de pesquisas de textos, inclusão de temas folclóricos, pesquisas sobre artes visuais e aprimoramento na criação de texto e uso de dramaturgias clássicas, além de apresentar novas tecnologias para crianças, jovens e professores.

Apesar de todas as adversidades, juntos conseguimos construir e apresentar um festival que ultrapassou as fronteiras do país, pois a apresentação presencial e a transmissão online possibilitaram que este trabalho, assim como a imagem do evento e do Instituto de Artes Integradas de Blumenau chegassem a países da África, Europa (especialmente Portugal e Alemanha), Estados Unidos e até mesmo à Ásia, nas localidades onde a Língua Portuguesa é o idioma oficial é praticado. Recentemente, recebemos comentários a este evento na página do Inarti, com conexões de novos fãs do Vietnã, Argentina e de vários países das Américas; ou seja, atingiu-se um público muito maior que o esperado. O momento presencial respeitou todas as normas de segurança para o Covid 19. Contou com a participação não só de crianças, mas também de suas famílias, de professores com suas crianças na escola, pois uma vez acessado o Youtube várias crianças poderiam estar assistindo.

Quanto aos argumentos e as ferramentas que o FENATIB arregimentou para sustentar esta iniciativa, foram a que todos os artistas e produtores culturais   usaram: fazer o nosso melhor acontecer e não parar, pensar em quantos grupos de teatro estavam sem trabalho e na expectativa de participar do FENATIB.  Tivemos que readequar o projeto e, assim que foi aprovado, marcamos a data. Além disso, contratamos uma empresa para nos ajudar na construção do novo formato. Os espetáculos de 19 grupos que passaram pela comissão de seleção foram transmitidos pelo Youtube, no site do Inarti – www.inarti.org.br – e na plataforma da Secretaria Municipal de Educação, os demais, 11 espetáculos da Mostra de Estudantes foram no presencial.

Cleiton: Há opiniões divergentes a respeito do teatro hoje feito nas plataformas digitais: há quem diga que é um novo teatro, um teatro digital ou teatro online, e há quem diga que não é teatro. Qual é o seu ponto de vista sobre esta questão? E na sua opinião, a virtualidade veio para ficar?

Teresinha: Minha opinião é que nada substitui o teatro presencial, tanto é verdade que relutei em aceitar o formato digital. O teatro precisa do encontro, da troca e do rito. Cada encontro é um momento único, um renovar de almas que se cruzam para uma troca de experiências. O teatro é plateia, é a reação do público e interação. O virtual poderá ser somente um apoio para as emergências como foi o caso da pandemia da Covid 19.

Cleiton: O que podemos esperar para o 24º FENATIB, em 2022 – um Festival presencial, virtual, híbrido?

Teresinha: O 24º FENATIB será com certeza presencial. Se não for possível realizar presencialmente em 2022, com certeza será assim realizado quando for possível. Sentimos falta das crianças subindo as escadas do teatro de mãos dadas, mal alcançando seus pezinhos no próximo degrau; as intervenções do público sempre curioso para saber da programação; e a imprensa atenta em todos os cantos da cidade, acompanhando o evento. É a mesma coisa que estar no palco interpretando:  precisamos da plateia vivenciando conosco o FENATIB.

(*) Maria tertesinha heimann
Mestre em Educação do Ensino Superior/FURB – Licenciatura em Educação Artística e bacharel em Direito, arte educadora, atriz, cenógrafa, artista plástica. Atuou como professora na Universidade Regional de Blumenau – FURB, nos Cursos de Arquitetura e Urbanismo e Educação Artística e na Pós-graduação. Coordenou o Festival Internacional de Teatro Universitário – FITUB; idealizadora e coordenadora do FENATIB – Festival Nacional de Teatro para Crianças e Jovens, atua na curadoria de festivais de teatro e artes plásticas. Realiza a editoração das Revistas do FENATIB e Panacea. Publicou diversos artigos em revistas de teatro, educação e jornais. Lançou em 2016, o livro Arte na escola: desafios na arte educação. Em 2017, lançou o livro Assim é nossa tradição. É Presidente do INARTI- Instituto de Artes Integradas de Blumenau. Membro do Instituto Histórico de Blumenau e da Academia Catarinense de Letras e Artes – ACLA.

(**) Cleiton Echeveste
Ator, diretor, dramaturgo e pesquisador, mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Possui graduação na área pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Integra o Grupo de Estudos e Pesquisa em Processos de Criação no Teatro para a Infância e Juventude. É um dos criadores e gestores da Pandorga Cia. de Teatro, do Rio de Janeiro. Integra o Centro Brasileiro da Associação Internacional de Teatro para a Infância e Juventude (CBTIJ/ASSITEJ Brasil), no qual atualmente é presidente do Conselho de Administração.