Critica publicada no Jornal de Brasília
Sem identificação – Brasília – 31.01.1974

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O difícil teatro infantil

Maria Minhoca conta a história de uma garota apaixonada que luta contra a vontade de seu pai de casá-la com um capitão. No Martins Pena, às 9, 16 e 17 horas.

Para uma cidade onde reclama-se, principalmente, da falta de público para as salas de espetáculo, a programação fica redundante. Em apenas um mês, dois grupos diferentes apresentam duas temporadas com o mesmo texto infantil de Maria Clara Machado, Maria Minhoca.

Assim, alguns enganos parecem ficar acumulados. Além da repetição desnecessária, os 15 espetáculos comprados, pela Fundação Cultural, ao Teatro de Pesquisa de Belo Horizonte, foram posteriormente vendidos à colônia de férias “Colonins”. O horário de atividades da colônia, no entanto, coincide com apenas um espetáculo pela manhã, deixando, com a falta promoção, as duas sessões da tarde praticamente sem público, ainda que a entrada seja franca.

Sobre este desanimador silêncio na plateia, o diretor e produtor de Maria Minhoca, Pedro Paulo Cava, explicou que mesmo com o cachê pago, “é muito ruim para o ator trabalhar para ninguém.

Sintomático

Criado há três anos em Belo Horizonte, o Teatro de Pesquisa, a princípio ligado à Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais, foi um grupo preparado com a finalidade de pesquisar textos e técnicas de interpretação. Desenvolvido um trabalho ao nível profissional, as pesquisas tiveram que ser abandonadas, em parte, por problemas econômicos.

De peças que apresentavam uma pesquisa em torno da pantomina, como Os Gestos Começam onde Terminam as Palavras, criada com o mímico Raimundo Fariinelli e Aquele que diz Sim, Aquele que Diz Não, de B. Brecht, a preparação do repertório passou a preocupar-se também com o texto infantil. Além de Maria Minhoca, montaram O Mágico de Oz, O Dragão Encantado, de Donato Donati, Romão e Julinha de Oscar vom Pfuhl, já que, segundo o próprio Pedro Paulo Chaves, 24 anos, sociólogo, “o teatro infantil sustenta o adulto.”

Deste modo, talvez para garantir a montagem de O Bravo Soldado Schweik, de Jaroslav Hassek, com um elenco que “não faz nada além de teatro e praticamente vive disto”, um outro texto infantil de Oscar Von Pfuhl, Don Chicote também está incluído nos planos do Teatro de Pesquisa.

Coisas de Criança

Na praça, os personagens bons e maus tem a segurança e firmeza bastantes para serem rapidamente identificados pela plateia. No cenário resumido ao essencial. Maria Minhoca (Miriam Chrystus) é apenas uma garota apaixonada e praticamente desamparada nas mãos do pai, Sr. Buldogue (Edel Mascarenhas), que, seguindo as simples tradições de sua educação inglesa, pretende casar a filha com o Capitão Quartel (Antonio Grassi), caça-dotes e fingido corajoso.

Sobre os personagens estabelecidos e um trabalho que pode ter a vantagem de ter os intérpretes adequados, a peça segue apenas para que cada um mostre suas virtudes e defeitos segundo as situações. Mas é sempre possível explorar pequenos pontos, como o “gaiato” Pedro Fon-Fon (Luciano Luppi) que chega a mentir e criar falsas situações por amizade a Chico Colibri (Milton Cecílio), o herói perdido e sem iniciativas.

Contudo, mesmo que pequenas revelações possam ser feitas, e uma das mais interessantes é o comportamento dominante e quase retardada do pai de Maria Minhoca, o desfecho onde os bons, por simples força de sua bondade, conseguem livrar-se dos empecilhos criados pelos maus fica trivial demais. Os maus são os punidos ou redimidos sem razão pela escolha e sobra a impressão que toda a situação está simplificada como coisas de crianças. Nada de sério.