Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 28.12.1975
Maria Minhoca
Maria Minhoca chega como uma exceção que confirma a regra; com um texto ingênuo e “velho”, Maria Clara consegue realizar um excelente espetáculo. A peça baseia-se naquele já acadêmico esqueminha da existência de um superpai que deseja, para sua filha, um belo casamento. E, para isso, escolhe um homem com as características que ele considera essenciais: maduro, respeitável, militar. A filha, é claro, prefere outro: um jovem romântico. Para que o casal vença a posição contrária do pai, a autora utiliza um amigo do rapaz, sujeito criativo e dinâmico, herdeiro de toda a tradição dos criados espertos da dramaturgia universal. E tudo se resolve bem.
Todavia, para contar essa historinha (já tantas vezes contada) Maria Clara Machado, cercou-se, como sempre, de uma produção cuidadosa (L. C. Ripper Filmes Ltda). Com uma ficha técnica digna do maior respeito, onde se destacam-se os nomes de Anna Letycia (cenários e figurinos) e de Nelly Laport (coreografia). Cercou-se de um elenco tarimbado (no qual apenas Luiz Antonio Barreto destoa um pouco pela sua inexperiência). E cercou-se principalmente, de seu talento para a criação de poesia a sensibilidade das crianças. A beleza da encenação começa a ser mostrada logo na cena inicial quando, sem palavras, é realizada uma ação sintética esclarecedora e, especialmente, cheia de charme. E a encenação vai correndo de uma forma teatralmente muito rica, seja na comicidade e na criatividade da “luta”, seja no impacto da entrada da “espanhola”. A notar apenas um senão: os atores não conseguem soltar bem a voz quando cantam, dando a impressão de que não foi achado o tom ideal. O elenco, excetuando-se o canto e a inexperiência de Luiz Antonio Barreto, tem um trabalho vivo, repleto de interesse, e conta com a participação enriquecedora de um ator vindo do teatro para adultos: Germano Filho.
Quando se chama a atenção para um texto-esquema, com seus segredos, planos e pessoas escondidas, não se quer afirmar a inexistência de um brilhantismo característico de Maria Clara. Já nos nomes dos personagens encontra-se um sabor todo especial (Mister Buldog, Capitão Quartel, Chiquinho Colibri); e na crítica ao superpai, nota-se o dedo de uma autora talentosa: “Eu gosto, Maria Minhoca também vai gostar. Ela é uma doce filha!”
Maria Minhoca é um espetáculo de alto nível, com um cuidadoso acabamento e que deve ser visto. Ficará no Tablado até dia 28, transferindo-se a seguir, para o Gláucio Gill.