Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 24.10.1992

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Tinha tudo pra dar certo

Não são poucas as histórias acontecidas em que, mesmo agrupando elementos da melhor qualidade, por algum motivo além da imaginação a química não acontece. Maria Minhoca, em cartaz no Teatro do SESC da Tijuca, que traz em sua impressionante ficha técnica os mais conceituados profissionais das artes cênicas – texto de Maria Clara Machado, direção de João Bethencourt, cenários de José Dias, figurinos de Kalma Murtinho e iluminação de Aurélio de Simoni -, é um desses casos. O resultado final da receita do sucesso deixa no ar a inevitável exclamação: tinha tudo para dar certo!

O texto de Maria Clara Machado mistura romance, humor e ação, todos os ingredientes para se contar uma boa história, mas o espetáculo chega à cena mantendo as mesmas características das montagens anteriores. A preocupação em repetir em todos os detalhes o grande clássico do Tablado limitou atores e diretor na possível composição de uma nova leitura, e nada foi arriscado. O cenário de José Dias subutilizou o palco do teatro, de excelente profundidade e com tijolinhos aparentes que dariam uma praça bem interessante. A luz de Aurélio de Simoni foi criada sem nuances, onde dia, tarde e noite são marcadas pela deixa do ator. Os figurinos de Kalma Murtinho se repetem e não fazem jus ao talento da artista.

Se o em torno não ousou maiores criatividades, a direção de João Bethencourt seguiu o mesmo caminho, deixando apenas sua marca nas situações de vaudeville, que ele tão bem sabe criar. Assim, o elenco, íntimo do texto e nele confiando, deixa que a peça aconteça sem alçar grandes voos na interpretação. Com exceção de Marcelo Escorel, um ator de humor próprio, que brinca com seus personagens, destacando cada tipo na composição exata.

Cotação: 1 estrela (Regular)