Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 18.06.1994

 

Barra

Comédia de situações em montagem tímida

Maria Minhoca, um texto concebido por Maria Clara Machado em 1968, teve na época os seus problemas com a caça às bruxas promovida pelos governos da época do golpe. O motivo foi a presença entre os pretendentes da minhoquinha, de um tal capitão Quartel, militar de conduta duvidosa, prestes a dar o golpe do baú. Quase um vaudeville, esta comédia de situações não tem tido montagens muito atraentes fora do Tablado. Acontece que o abre-te sésamo conferido aos textos da autora falha, se os demais elementos do espetáculo não estiverem em harmonia.

Utilizando basicamente alunos e ex-alunos do curso de formação de atores da Faculdade da Cidade, a diretora Ítala Nandi tem nas mãos um elenco pouco experiente, que ainda se coloca timidamente no palco. Apesar do reconhecido esforço de todos na realização de um espetáculo com ritmo, sem distrações desnecessária, falta a quase todos os atores o imprescindível tempo de comédia, e principalmente o saber ouvir, sem o qual o ato de contracenar se torna impossível. Mesmo assim, Isabella Thiago de Mello e Giuliano Nandi se destacam pela leveza do humor dos personagens Maria Minhoca e Pedro Fon-Fon.

Os cenários de Carlos Alberto Nunes são graciosos e bem executados. Dentro de sua simplicidade, auxiliam a ação corretamente. Os figurinos, do mesmo autor, vestem bem os personagens, deixando destoantes apenas o anacrônico camisolão e o barrete de Mister Buldogue, na mesma cena em que o guarda-noturno exibe um moderníssimo uniforme.

A trilha sonora, recolhida por Ítala Nandi, mistura, entre outros elementos, o hino do confederados americanos com acordes de filmes de terror. Mas a intenção de conduzir a ação como nos desenhos animados se perde na operação do som, que mito alto, abafa em alguns momentos a voz dos atores.

Como todo espetáculo iniciante, Maria Minhoca não decolou como merecia. Louve-se, no entanto, o respeito pelo público, explicado por cada um dos intérpretes da equipe posta em cena. Assim como em outras profissões, também no teatro só se aprende fazendo. E isso é uma questão de tempo.

Maria Minhoca está em cartaz no Teatro da Cidade, aos sábados e domingos, às 17h. Ingressos a CR$ 7.000.

Cotação: 1 estrela (regular)