Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 16.06.1979
As reações de Maria Minhoca
Esta nova encenação de Maria Minhoca, de Maria Clara Machado, é mais uma opção de bom programa infantil para as crianças cariocas. Espremida no pequenino espaço de Teatro Cândido Mendes, a montagem dirigida por Eduardo Machado consegue criar um bom clima de envolvimento e comicidade. A encenação tem um gostoso tom crítico – que talvez desse ainda melhor resultado se fosse mais exacerbado – é criativa, e se comunica bem com a criançada.
O texto – uma peça menor dentro da obra de Maria Clara – mantém, entretanto, as qualidades básicas dessa autora, Maria Clara, como sempre, capta com muita sensibilidade o mundo infantil; tem um humor muito especial; e sabe desenvolver bem uma história. Pena que em Maria Minhoca ela ainda apele para monólogos explicativos e leve a personagem a entrar no jogo machista do pai. A personagem convence Colibri (seu namorado) de que – em termos reais – seu pai está certo: é preciso conquistá-lo primeiro para depois conquista-lo de modo concreto. Os atores não mostram muita unidade no resultado final do trabalho, mas dão a impressão de que curtem muito o que estão fazendo. Destacam-se Ricardo Maurício, um Fon-Fon que começa um tanto tímido e titubeante e que vai crescendo bastante durante o correr da encenação, chegando a realizar ótimas cenas no final; e Dora Pellegrino, que faz uma Maria Minhoca num tom que consegue transmitir bem o ar crítico da situação.
A música de Mauro Rocha é agradável, leve e gostosa, auxiliando bem na atmosfera descontraída da montagem. Os cenários e figurinos (criados pelo grupo) funcionam bem; a luz (de quem?) ceia climas, mas acaba tendo um resultado muito caótico. Em síntese: Maria Minhoca é um texto que mostra a posição errada e antipática de pais repressores (apesar de mostrar que o pai não se reformula, pois a filha é quem entra no jogo dele), numa encenação agradável e bem realizada, com uma boa utilização do pequeno espaço do Teatro Cândido Mendes.